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XII
Ciúmes
Toda noite Pepe gostava de ouvir música. Seu companheiro nessas noitadas regadas a coca-cola e muito som era Plácido, seu amigo de sempre. Os dois se davam tão bem que combinavam em quase tudo. Na comida nem se fala: o que um gostava o outro adorava. Quando Plácido não estava no apartamento de Pepe, estava com a vovó Marilda, que morava no mesmo prédio, só que no primeiro andar.
Ao chegar de viagem, Kocsis estranhava aquela junteira da filha com o filho do vizinho, o menino não arredava o pé. Isso interferia no relacionamento dele com a filha. Ele queria ficar o tempo todo com Pepita, para matar a saudade de tanto tempo que passava viajando. Gostava de ficar deitado na cama brincando com a filha, falando dos lugares por onde passava, das pessoas que conhecia pelo mundo afora. Ensinava palavras em línguas estrangeiras, canções que falavam de terras distantes.
Esse prazer era interrompido quando o japinha chegava. Plácido era uma mistura de
nissei com uma brasileira. Os pais dele gostavam e reforçavam a amizade entre os dois pequenos vizinhos.
Foi através dos meninos que a professora Conceição se tornou grande amiga de Adélia, a mãe de
Plácido. Ambas se curtiam muito, a ponto de trocarem confidências. O grande grilo de Kocsis era que se invocara que o menino tinha muitos trejeitos de gay. É difícil dizer se um menino de sete anos é ou será gay. Talvez fosse mera implicância dele com o menino, porque ele perturbava o relacionamento entre ele e sua filha.
Essa postura de Kocsis é um tanto estranha e, de certa forma, inaceitável, visto que, de um homem que viaja pelo mundo inteiro, se espera uma postura mais liberal, de maior tolerância e menos conservadora.
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