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INTRODUÇÃO

1. NEW JOURNALISM
1.1 As origens do New Journalism
1.2. Talese, Wolfe e Breslin e o surgimento do New Journalism
1.3. Capote e Mailer reforçam o time
1.4. Definições e Características

2. GONZO JOURNALISM
2.1. Hunter S. Thompson e as origens do Gonzo Journalism
2.2 O que é Gonzo Journalism?

3. GONZO JOURNALISM VS. NEW JOURNALISM
3.1. A Imersão e A Osmose
3.2. A Captação Participativa
3.3. Foco Narrativo
3.4. Sarcasmo e Sobriedade
3.5. Ficção e Não-ficção
3.6. O uso de drogas no Gonzo Journalism
3.7. A fuga do foco principal
3.8. Epígrafes, pseudônimos e ilustrações Gonzo

CONCLUSÃO

OBRAS CONSULTADAS



CONCLUSÃO


Ao longo deste trabalho tentamos provar que, ainda que tenham surgido na mesma época, Gonzo Journalism e New Journalism são gêneros jornalístico-literários distintos entre si. Para demonstrar as diferenças entre os dois estilos, tanto o histórico como as principais características de cada um foram descritas e delimitadas na primeira parte deste trabalho, para serem posteriormente confrontadas na terceira e última parte.

Com a adoção do termo Literary Journalism para descrever os gêneros híbridos entre a ficção e a não-ficção, ficou mais fácil fazer esta distinção. Finalizada a exposição dos argumentos que pretendem legitimar o Gonzo Journalism como gênero literário que se origina do New Journalism mas desenvolve-se de forma separada, podemos concluir que são seis os aspectos fundamentais os responsáveis por esta diferença. O primeiro diz respeito à investigação dos fatos e os cinco restantes se relacionam com a redação do texto.

Quanto à coleta de informações, a característica mais marcante no Gonzo Journalism é a técnica de imersão extrema que decidimos chamar de osmose. No tocante à redação do texto, podemos enumerar cinco aspectos. O primeiro dele é o uso do foco narrativo em primeira pessoa, que ocorre raras vezes no New Journalism e torna-se a principal regra a ser observada no Gonzo. O segundo é a permissividade quanto ao uso de ficção, que se traduz melhor na inexistência de um limite entre os eventos que de fato aconteceram e os que foram incluídos pelo repórter com o intuito de aumentar a carga de informações dispensada aos leitores. O terceiro aspecto refere-se ao humor sarcástico presente no Gonzo Journalism em contraste com a seriedade celebrada pelo New Journalism.

A predileção por focar o seu relato na descrição experiência muito mais do que no fato em si, o que leva o repórter gonzo a se afastar muitas vezes do seu tema principal é o quarto aspecto fundamental e o consumo de drogas é o quinto. Para que um texto seja classificado como gonzo, as quatro primeiras características precisam ser obrigatoriamente constatadas. O consumo de drogas, como dito anteriormente, é facultativo.

Christine Onassis define Gonzo Journalism como um offshoot do New Journalism, palavra inglesa que significa "algo que se desenvolve de outra coisa maior, que já existia anteriormente" (Cambridge International Dictionary of English, 1995, p.978). Desta forma, é correto considerar o Gonzo Journalism uma evolução do New Journalism e, uma vez que é ilegítimo, podemos chamá-lo de seu filho bastardo. Não é correto, porém, considerar o New Journalism uma evolução do Jornalismo Literário, visto que é apenas um momento específico dentro da sua história.

O Gonzo Journalism, por outro lado, não representa um momento específico, uma vez que o seu principal autor, Hunter Thompson, seguiu escrevendo e desenvolvendo seu estilo nas décadas seguintes, evoluindo em uma direção diferente dos demais autores do New Journalism, que perderam a força, a credibilidade e o espaço até sumir quase por completo na segunda metade dos anos 80, e influenciando toda uma geração de novos autores.

Outra curiosidade é o fato de Thompson, por exemplo, nunca ter escrito artigos Gonzo para jornais - todos os seus trabalhos foram publicados em revista. Recentemente ele passou a escrever uma coluna para o site da rede a cabo especializada em esportes ESPN, chamada Hey, Rube!. Esta peculiaridade aproxima Thompson dos escritores contemporâneos que produzem Gonzo Journalism, uma vez que todos os seus trabalhos só encontraram espaço em revistas, publicações alternativas e na rede.

As definições e conceitos expostos neste trabalho serviram também para qualificar como Gonzo diversos artigos de Jornalismo Literário publicados na última década em publicações online como o CardosOnLine e a Irmandade Raoul Duke e revistas como a Rolling Stone, High Times e Trip, o que acaba de uma vez por todas com a noção de que o Gonzo Journalism é um gênero de um só autor. A partir deste trabalho, Hunter S. Thompson deixa o posto de único autor gonzo e passa a ser o mentor e principal representante de uma escola literária com características bastante específicas.

A crescente popularidade do gênero no Brasil também nos leva a uma conclusão importante sobre o Gonzo. Por ter se originado nos Estados Unidos e falar basicamente, segundo Othitis, sobre as obsessões norte-americanas (sexo, violência, política, drogas e esportes), poderíamos concluir que o gênero tem uma área de interesse muito limitada e portanto não seria bem aceito em outros países.

Mas tudo aquilo a que Othitis refere-se como obsessões norte-americanas são, na verdade, obsessões humanas e, portanto, universais. Desta forma, um Gonzo Jornalista não está escrevendo apenas sobre o seu umbigo, mas sobre temas que dizem respeito não só a uma grande parcela dos norte-americanos, mas a uma grande parcela da humanidade, o que permite que o gênero sobreviva e se desenvolva em qualquer parte do mundo.

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