DISCLAIMER Monografia apresentada ao curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em março de 2003 como requisito parcial para obtenção de título de bacharel em Comunicação Social, ênfase em Jornalismo. Elaborado em ano e meio de reflexões, três meses de leituras e pesquisas e seis dias de lavoura escritiva intensa. Sem revisões. Influenciado. Nunca relido - exceto parcialmente durante a confecção das próximas páginas. Este longo texto busca enumerar as características essenciais e manobras recorrentes na obra de Hunter Thompson para que possamos criar um conceito do que é Gonzo Jornalismo e tratá-lo como um fenômeno à parte do Novo Jornalismo. Basicamente, encontrar o minímo denominador comum, o espírito, o significado e a essência não apenas do que é Gonzo Jornalismo, mas principalmente do que é Gonzo. E, sim, por algum motivo havia me afeiçoado sobremaneira à palavra ÉGIDE e outros clichês mezzo-cultos fudidos pra caralho. Mas acho interessante conservar o texto original, porque até o ROCAMBOLESCO da linguagem é parte da aplicação prática das técnicas que eu mesmo defendo. A repetição admoestante de conceitos, o francesismo much gay do século XIX e as obtemperações por demais esmiúçadas ajudam a criar a atmosfera de caricatura de mundo acadêmico, soltando, portanto, a pitada de ironia necessária ao mais pleno exercício do GONZO, coisa que, a princípio, seria retoricamente impossível dentro da ACADEMIA. No dia dez de março de 2003, defendi perante a banca e tirei dez. Cheque-mate. AGRADECIMENTOS Ao meu bom amigo Daniel Galera, primeiro por ser um bom amigo e segundo por ter me feito acreditar que se alguém poderia fazer um bom trabalho neste campo de pesquisa, este alguém era eu. Ao meu orientador, amigo e professor, o paciente Doutor Paulo Seben, por ter se disposto a encarar a batalha incessante que é orientar alguém tão difícil. Ao amigo Tiago Ribeiro por ter me confessado sua grande vontade de conhecer o resultado da minha pesquisa, o que me motivou muitas vezes a retomar o trabalho mesmo após dias e mais dias de falta de motivação. À Marianne Scholze, pelo incentivo fundamental e a pesarosa tarefa de revisar todo este trabalho durante um fim-de-semana de suas férias, nas madrugadas pós-cinema e praias da costa catarinense. À Cecília Gianetti pelo acesso aos resultados de sua pesquisa sobre Jornalismo Literário e Marcela Duarte pela ajuda na formatação e estrutura acadêmica requisitada. Ao meu procurador Rodrigo “Suruba” Alvarez, por ter me fornecido a bibliografia necessária e ao meu mestre Daniel Pellizzari pelas caipiras do mal e por não ter nunca desistido de acreditar em mim. Por fim aos professores participantes da minha banca, Carlos Gerbase e José Antonio Meira da Rocha (o popular Jacaré) pela leitura e críticas essenciais ao conteúdo das próximas páginas. RESUMO O presente trabalho propõe-se a demonstrar que o gonzo journalism, técnica de reportagem criada e desenvolvida nos Estados Unidos no início dos anos 60 pelo jornalista Hunter S. Thompson, é um gênero estilístico diferente do new journalism de Tom Wolfe, Gay Talese e Truman Capote. A diferenciação entre as duas escolas se faz necessária para demonstrar que o gonzo journalism não é uma mera distorção dos conceitos do new journalism mas sim uma nova forma estilística, que propõe novos caminhos não só na apresentação do texto como também na escolha dos temas, abordagem dos assuntos e até mesmo nas técnicas de apuração dos fatos. Além de conceituar e apontar as principais diferenças entre os dois gêneros, o trabalho também analisa a influência que o gonzo journalism exerce entre diversos autores de jornalismo literário contemporâneos, verificada especialmente em fanzines e periódicos alternativos na internet. INTRODUÇÃO Nos primeiros anos da década de 60 os Estados Unidos foram o berço e também palco principal de uma das maiores manifestações de contestação dos valores da sociedade moderna: o movimento hippie. A tradição política vigente na época partia do princípio que a sociedade era a justificativa para a existência do homem. O movimento hippie aparece para inverter o processo, afirmando que o homem é a única justificativa para a existência da sociedade. Sendo assim, a sociedade é que deveria moldar-se conforme as necessidades humanas e não o contrário. Esta visão humanista permitiu o surgimento das comunidades voltadas para o auto-conhecimento humano e a libertação dos grilhões outrora impostos pela sociedade. Sexo livre, direitos irrestritos do uso do livre-arbítrio, volta ao primitivismo (observado especialmente na estrutura social das comunidades e nas manifestações artísticas como o artesanato) e a extensa investigação do significado da existência humana através do misticismo e do uso de substâncias alteradoras da consciência são algumas das principais características do movimento. Toda essa cultura de reação, que não por acaso é muitas vezes referenciada como contracultura, influenciou de maneira profunda todas as manifestações artísticas da época. Desde a música até a pintura, todas as formas de arte contaminaram-se com o vírus hippie. É curioso perceber que o pontapé incial no movimento hippie é atribuído justamente à literatura contestadora e carregada de idéias de liberdade do movimento beatnik, iniciado pouco mais de uma década antes por escritores como Allan Ginsberg, Jack Kerouac e William Burroughs, que, inconformados com a valorização do consumismo e do conforto material, inventaram uma nova forma de literatura que não só fugia dos padrões formais como discutia de forma aberta temas controversos como o uso de drogas. Com o foco de atenção voltado para o ser humano, o jornalismo também sofre os efeitos das transformações no mundo, e acaba estreitando suas conexões com a literatura através do surgimento do então chamado New Journalism. Tom Wolfe, Gay Talese, Norman Mailer e Truman Capote são os maiores expoentes da nova corrente que propõe mudanças drásticas no modo como se apura, redige e edita o fato noticioso, utilizando-se de uma série de técnicas da literatura de ficção e mantendo uma visão mais humanitária na sua abordagem, contrariando a distância e a frieza do jornalismo tradicional. Por volta de 1966, surge um jornalista disposto a avançar mais um passo na evolução do New Journalism: Hunter S. Thompson. Adepto de técnicas que o aproximam muito mais dos ideais beatniks e hippies (como o obrigatório abuso de drogas, os caóticos métodos de captação e a liberdade criativa na hora de escrever os textos) do que os seus contemporâneos, Hunter dá origem ao que se convencionou chamar de Gonzo Journalism, que ainda hoje é reconhecido academicamente como uma escola de um só autor. O Gonzo Journalism prima pela total anarquia, pelo sarcasmo e pelo exagero. É a tradução mais aproximada dos ideais libertários da época: a busca incessante pelo Sonho Americano - coisa que todos, de uma forma ou outra, estavam fazendo nos Estados Unidos nos anos 60. Tendo em vista o crescente número de trabalhos jornalísticos que buscam se afirmar através das técnicas e conceitos desenvolvidos por Thompson, este trabalho propõe-se a demonstrar que, ainda que tenha surgido dentro do mesmo contexto e compartilhe de algumas características semelhantes, o Gonzo Journalism não é uma mera distorção do New Journalism, mas sim uma evolução que formou uma escola à parte, com características exclusivas e inconfundíveis. Para tanto, as origens, o desenvolvimento e os principais postulados dos dois gêneros serão confrontados para que se definam as mais marcantes semelhanças e, principalmente, diferenças entre o Gonzo e o New Journalism. A relevância deste estudo consiste na urgência de se delimitar as principais características do Gonzo Journalism, tanto para legitimá-lo como um gênero único como para que possamos classificar novos autores sob este rótulo. O capítulo I fala sobre o surgimento do New Journalism na imprensa norte-americana no começo dos anos 60. Nele são apresentados os principais representantes do gênero e discutidos os quatro elementos principais que caracterizam um texto escrito dentro de seus preceitos. Ao longo deste capítulo analisamos demoradamente cada um dos principais autores e o seu papel dentro do movimento - que, na verdade, nunca se caracterizou como um movimento propriamente dito. O capítulo seguinte (capítulo II) traça uma pequena biografia de Hunter S. Thompson e os fatos mais marcantes para que o escritor desenvolvesse o Gonzo Journalism, cujos preceitos básicos são delimitados a partir da análise de suas obras e entrevistas concedidas a biógrafos. Por fim, no último capítulo (capítulo III), se faz uma comparação entre o New Journalism e o Gonzo Journalism, citando-se inclusive os autores modernos que merecem ser classificados sob esta égide. 1. NEW JOURNALISM
1.1 As origens do New Journalism 1.2. Talese, Wolfe e Breslin e o surgimento do New Journalism 1.3. Capote e Mailer reforçam o time 1.4. Definições e Características 2. GONZO JOURNALISM 2.1. Hunter S. Thompson e as origens do Gonzo Journalism 2.2 O que é Gonzo Journalism? 3. GONZO JOURNALISM VS. NEW JOURNALISM 3.1. A Imersão e A Osmose 3.2. A Captação Participativa 3.3. Foco Narrativo 3.4. Sarcasmo e Sobriedade 3.5. Ficção e Não-ficção 3.6. O uso de drogas no Gonzo Journalism 3.7. A fuga do foco principal 3.8. Epígrafes, pseudônimos e ilustrações Gonzo CONCLUSÃO Conclusão OBRAS CONSULTADAS Obras consultadas
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