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Ponta Grossa Chronicles
Publicado originalmente como uma série de posts no blog Tripa Nelas Tudo, em 2005
DOZE HORAS E MEIA NA ESTRADA
Pelo menos não foram TREZE. Desci um tanto INCRÉDULO na rodoviária de Potnta Grossa no começo da manhã desta segunda: me pareceu a cidade ERRADA. Acordei da modorra MORNA meio que a tapa - meio que ao FIM dos SOLAVANCOS perturbantes de SOVACOS. No fundo, os braços MOÍDOS, mamolengados de tanto escuro e pouco espaço, APESAR de muito, não me serviam tão bem pra levantar do BANCO.
DOZE HORAS e meia na estrada. Tive de aturar RONCO, cheiro RUIM da pele da vizinha e só pisei duas vezes no chão do BRASIL: uma em LAGES, mais de TRÊS horas, pra comer acepipes de FRANGO em COXA y KEBAB; outra sabe Deus onde, quasi-quatrivinte, bem pra ISSO mesmo que tu tá SUPONDO. De resto agüinha, pensamento, leve leitura; filme de COWBOY com o Matt Damon e de ROMANCE (produzido pela e) com a Sandra Bullock, ambos DUBLADOS.
Não fui pelo LITORAL, mas disso só fui saber depois de já haver consumido os DOIS pacotes de salgadinho SENSAÇÕES LARANJA que levei meio que de SNACK de CHIQUE até a altura do JAPONEZ. Fato que eu não previa é que não TINHA o JAPONEZ. Não tinha sequer CRICIÚMA: era pelo MEIÃO do mapa mesmo. Caxias do Sul e o caralho. Senti que tava fudido quando não pararam às ONZE horas. Mas até que me GÜENTEI.
A rapaziada local é MASSA BRAGARÁI. Dá vontade de ficar mais tempo por aqui. Além da boa GENTE, há boa CIDADE: universitária, relativamente calma, bela, com mulheres APRAZÍVEIS ao olhar, aluguéis e tatuagens amigas do BOLSO. Hoje mais tarde vou beber cerveja, mas, por hora, tou aqui no TALACHIA redigindo e-mails & posts e recauchutando um FRILA que entreguei sábado de noite ao CLIENTE. Ficará legal.
Por hora, tudo muito bom no CENTRO-SUL do Paraná.
O NORTE é mais pra cima.
RUMO AO PARANÁ (E DE VOLTA) EM NÚMEROS
R$ 8,30 - Ao chegar na rodoviária de Porto Alegre, notei que me sobravam cerca de QUINZE minutos até a hora prevista para o EMBARQUE. Sendo assim, resolvi me ABASTECER de alguns MIMOS que me ajudariam a atravessar a viagem noite adentro de maneira mais CONFORTABILÍSSIMA, pressupunha. Prevendo que jantaria por volta das 23h, no máximo, não exagerei nas PROVISÕES. No primeiro boteco que me apareceu pela frente, comprei uma garrafinha de água de meio litro e dois pacotinhos de SENSAÇÕES LARANJA. Adquiri também uma carteira de CARLTON RED, já que pegar a estrada sempre me dá vontade de PITAR na discrição. Sei que já passavam das 22h quando o segundo pacote de PETISCO se foi e percebi que o ônibus SINGRAVA as ruas de CAXIAS DO SUL. Leve pavor me ACOMETEU.
R$ 7,50 - A primeira parada ocorreu SABE DEUS ONDE, mas eu chuto que em LAGES, Santa Catarina. Lembro que era TARDE pra caralho e o meu corpo, completamente ESFAIMADO, havia sucumbido a breves VINTE MINUTOS de sono HORRÍVEL e massacrante. Quando o barulho do motor e o leve trepidar da estrada CESSARAM, as luzes acenderam e o bigode do motora BALOUÇOU, decretando QUINZE minutos de parada. Sem muito tempo ou opções de JANTA decente, acabei me REFESTELANDO com o que me parecia ser possível DEGLUTIR neste QUARTINHO horário. Apelei para o ESPETINHO de galinha à milanesa (em referência ao que os gringos haviam recentemente chamado de KEBAB durante os tenebrosos filmes que foram exibidos dentro do COLETIVO INTERESTADUAL) mas a fome PERSISTIU. Ávido pela DIVERSIDADE, arrisquei pela PRIMEIRA vez ao pedir uma COXINHA. Misturei tudo a uma GUARANÁ e saí de lá com uma SEGUNDA garrafa de meio litro d'água. A primeira ainda não havia acabado, mas, em BREVE, iria.
~=R$ 5 - Cheguei na rodoviária de Ponta Grossa DESCONFIOSO do que o motora havia falado. Inqueri mais duas pessoas na vontade de CONFIRMAR meu destino, e todos me responderam GUTURALISMOS indescritíves. Fiquei observando o ônibus partir ACHANDO que estava em Ponta Grossa, mas ainda sem muita certeza. Surpreendentemente, cheguei quase MEIA HORA adiantado, então resolvi comer alguma coisa enquanto esperava que alguém aparecesse (ou não) para me encontrar. Estudei os estabelecimentos alimentícios abertos: todos começavam a fritar as primeiras FATIAS de bacon e discos de CALABRESA, mas achei que seria um tanto PESADO abocanhar um XIS às oito e meia da matina. Passei os olhos pelas MARCAS de cerveja exibidas nos balcões e só o nome MALTA saltava, indicando seus R$ 1,30 de custo. Achei melhor perguntar primeiro para os LOCAIS a respeito de suas qualidades antes de me AVENTURAR na birita estrangeira. No fim, acabei ficando na ESFIHA de frango com COCA e SOBREMESEI um SUFFLAIR. Bem na hora que fui dar a primeira mordida, encostado no balcão, um tipo estranho que tentava vender um copo de vinho daqueles que tu FINGE que vai molhar OUTREM, mas, na verdade, possui uma TAMPA transparente impedindo, me ENCAROU e eu deixei que um QUADRADINHO encontrasse o chão. Maldito.
R$ 2,80 - Fui direto da Rodoviária pro campus da UEPG onde seriam realizados os debates do encontro. No caminho até lá, alucinando pela FALTA de sono, fiquei sabendo que o FERRÉZ havia ARREGADO e não mais viria participar da minha MESA. Pena. Cheguei ao auditório bem no começo do debate de segunda-feira, sobre REFORMA UNIVERSITÁRIA. Em cerca de 10 minutos, não agüentava mais o tom MONOCÓRDIO do representante do MEC. Os demais participantes da mesa olhavam para cima, bocejavam, coçavam a cara. Os alunos, em número realmente expressivo, pareciam INTERESSADOS. Meu celular tocou, compromissos profissionais. Precisei atender e ligar de volta para Porto Alegre. Os treze créditos do cartão morreram em cerca de 40 segundos. Enquanto eu conversava, o Ricardo ficou fuçando num extintor de incêndio, que DISPAROU, depositando grande parte do JATO sobre as minhas CALÇAS. Pensei que era algum tipo de BRINCADEIRA universitária paranaense, mas parece que foi um ACIDENTE, mesmo. Para tentar me manter acordado, fui tomar um SUCO com o Jeferson na LANCHONETE. Dizia na placa R$ 1,80, mas a mulher me cobrou R$ 2,80. Porra: até no PARANÁ tão me tirando pra GRINGO.
R$ 10 - Teve uma hora na segunda de noite que todo o meu cansaço simplesmente foi pro ESPAÇO. Talvez tenha a ver com a OVERDOSE de AMENDOIM JAPONÊS que comi no coquetel de abertura de uma exposição de fotos mais cedo, talvez não. Fato é que MAMEI várias GELADAS num lugar chamado BARBAZUL, depois que meus CICERONES locais conseguiram um impressionante desconto de VINTE E CINCO centavos por GARRAFA. Num perímetro de não mais de 30 metros, três bares relativamente vazios competiam pra ver quem tocava KID ABELHA mais alto. Ficavam todos nesta rua ESTREITA, onde a calçada estava separada dos CARROS, que voavam baixo, apenas por uma mísera CERQUINHA de metal. Perguntei sobre acidentes por ali ocorridos: NINGUNO, segundo consta. Me surpreendi que nenhum bebum tenha tentado brincar de WINDSURF nas grades e tenha tido a BUNDA levantada por um ÔNIBUS, ou que mesmo um motorista SACANA não tenha diminuido a velocidade, estendido o braço JANELAFORA e SURRUPIADO uma AMPOLA completa de gelado pão líquido. Civilizados, os PONTAGROSSENSES. A conta deu R$ 41,50. Larguei uma ARARA na bancada; chamaram mais DUAS pra encerrar a noite. Uma das quais na FAIXA.
R$ 11 - Já CALEJADO pela viagem de IDA, procurei me preparar melhor para a de VOLTA. O trajeto, segundo havia me informado Ricardo, era o MESMÍSSIMO, portanto, podia esquecer qualquer possibilidade de parar no JAPONEZ. Não que eu tenha assim TANTA predileção pelo estabelecimento de CRICIÚMA, mas lembro que por lá sempre havia umas COMIDINHAS de mais QUALIDADE para se degustar. Enfim. Aproveitei que o almoço de terça seria ARREGADO, oferecido aos palestrantes num restaurante da MAIS ALTA QUALIDADE, para FORRAR O PANDULHO. Não posso reclamar do de segunda: também mandou bem. Mas esse de terça foi realmente LOUVÁVEL. Camarãozinho no molho rosé, franguinho grelhado, lasanha e outras lindezas. Recheei LEGAL a panza. Não muitas horas depois estava caminhando EXTENSA caminhada até a rodoviária com o Jeferson e o Ricardo e ainda não sentia fome. Deixei a cidade pouco depois das 18h. A primeira parada aconteceu relativamente CEDO, por volta das 19h30. Nutri-me de DOUBLE COXINHAS com PIMENTA e uma maionese SUSPEITÍSSIMA, tomei uma COCA e levei um pacote grande de RUFFLES CHURRASCO, uma barra de SUFFLAIR e meio litro d'água pra dentro do ônibus. O chocolate acabou resistindo POUCO; o RUFFLES viajou até Porto Alegre comigo.
R$ 6 - Apesar de não ter assim tanta fome nem sede, resolvi esticar as pernas nesta segunda parada, acho que também em LAGES, Santa Catarina. Não reconheci, contudo, o LUGAREJO. De fato, certamente era DIFERENTE do que fizemos a parada na viagem de IDA. De todo modo, acho que foi algo que ouvi na TV da lanchonete que me deu a IMPRESSÃO de por lá estar. Ou o sotaque do CATARINA do balcão. Não sei. Fato é que mandei pro BUCHO novo KEBAB (esse mais bem feitinho) e outra COXINHA, tudo regado dessa vez na base da SKOL, pra dar um BRILHO e colaborar na indução ao SONO. Mas que NADA: chamar na BREJA só me conferiu leve porem pronunciada PEIDORREIRA e me manteve arrotando a noite INTEIRA.
Balanço final: R$ 50,60 - Nem foi tão caro, foi? Da próxima vez, vou JANTAR em casa antes de pegar a estrada e comer MENOS coxinhas ao longo do trajeto. Também não vou comprar cigarros: fumei apenas UM, ainda em Porto Alegre, e doei toda a carteira restante aos meus ANFITRIÕES no Paraná. Formei uma bela parceria com a rapaziada da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Certamente voltarei mais vezes. Em NOVEMBRO rola uma tal de FESTA DO CHOPE PRETO, que também poderíamos chamar de MELHOR DESCULPA DO MUNDO para voltar a esta tão querida TERRINHA. Pois voltarei.
Me aguardem.
BÔNUS ROUND: R$ 11 - Hoje de manhã, pra voltar pra casa, tive de pegar um TÁXI. Geralmente dou muito papo pros taxistas, mas hoje eu tava tão MOÍDO que tudo que eu conseguia pensar era na minha CAMA. Fato é que desde cedo notei que esse MOTORA queria MUITO conversar: tudo que via pela frente ele comentava. Nos primeiros DEZ metros viu um BRIGADIANO loiro atravessando a rua e lascou é GROSSO esse, veio LÃ das GROTA. se der um chute na canela dum, MATA. Eu ri, MIÚDO. Ele começou então a me contar da vez que jogou de CHUTEIRA contra um time INTEIRO de ALEMÃOZINHOS de pés descalços em SÃO LEOPOLDO e foi parar no HOSPITAL. Depois o assunto descambou pra seleção brasileira, pro Grêmio, e - sabe Deus COMO - pros seus filhos, com quem ele NÃO se dá. Diz que um filho jogava futebol (ah! agora lembrei como o assunto chegou nisso) mas desistiu da carreira e foi mexer com COMPUTADOR nos Estados Unidos. Aí ganhou TANTA grana que comprou o PRÉDIO DA ROLLS ROYCE. Tá faturando 15 mil dólares POR MÊS, diz ele. Mas não fala com o pai. Não fala porque CINCO anos atrás, o pai pegou a MÃE dando pro SOGRO da FILHA na sua própria cama e deu DOIS tiros no véio - um PEDREIRO todo FUDIDO, segundo ele. A família INTEIRA ficou do lado da MÃE, e o pai se FUDEU. Saiu de casa, teve que dar METADE da grana pra ela e agora tá todo DOENTE, com problema de pressão alta e o caralho, tendo que trabalhar no táxi pra poder pagar PENSÃO, remédio e sobreviver. E a família INTEIRA o abandonou. Enfim, fato é que GASTEI também esses R$ 11, mas não vou incluí-los em custos de viagem. Pra mim, esse dinheiro tá pagando uma OUTRA cousa, totalmente DIFERENTE, mas enfim. Deixa pra lá.
DOLORES
Eu realmente ADMIRO quem consegue dormir em ÔNIBUS LEITO. Pra mim, trata-se de um verdadeiro SUPLÍCIO, uma TORTURA que os TÁRTAROS, possivelmente, inventaram no INTUITO de CASTIGAREM seus INIMIGOS. Foda é que no começo tudo parece EXPLÊNDIDO: ó, ônibus LEITO! Vai dar pra ir DORMINDINHO delícia. ARRÃ.
Verdade seja dita: embarquei apenas com ERROS na cabeça. Achei que ia para o NORTE do Paraná; pelo LITORAL; e que conseguiria dormir MARAVILHA depois de umas duas da matina, já que havia me escolhido a poltrona NOVE, bem ao lado da SAÍDA DE EMERGÊNCIA, onde sobra mais espaço para as PERNOCAS.
Acomodei a mochila embaixo do ENCOSTO para os GAMBITOS, coloquei a poltrona em uma posição de LEVE INCLÍNIO, fechei as duas saídas de ventilação, abri um pacote de SENSAÇÕES, a garrafa d'água e o Hell's Angels, acendi a lampadinha DIRECIONADA e exibi um discreto sorriso: NINGUÉM viajaria ao meu lado.
Findo o primeiro saco de PETISCO e cerca de vinte páginas do livro, fazemos a primeira parada em que NOVOS passageiros embarcam. Nisso, a ÍNDIA mezzo-gordota de camisa de RUGBY e tranças, RESCENDENDO a sebo humano, DESERTA da poltrona atrás da minha e vem se ABANCAR ao meu lado. RECOLHO-ME, um tanto contrariado. Começa o PRIMEIRO filme dublado, que me distrai constantemente do livro. A passageira à minha frente reclina seu assento ao MÁXIMO, prendendo minhas pernas de maneira IRREMEDIÁVEL. A BUGRONA fedida ao lado RONCA, despencada por cima do meu OMBRO. EMBURRO-ME tanto que chego a cochilar por cerca de VINTE minutos, acordando apenas quando fazemos a primeira parada ALIMENTÍCIA da noite.
Ao longo da madrugada, a situação permaneceu nessa constância: a SENHÔURA paulista que viajava no banco da frente com a cabeça deitada sobre o meu COLO; a índia RONCOSA exalando maus odores e me OPRIMINDO toda uma lateral. Meus movimentos limitavam-se a retirar a garrafa d'água do APOIO lateral, abri-la, bebê-la e devolvê-la ao local de ORIGEM. Claro que a repetição desta ação foi, aos poucos, me COMPLETANDO a bexiga, que, lá pelas tantas, começou a PROTESTAR via URETRA. Performei movimentos dignos dos mais GRADUADOS mestres de YOGA para poder deixar meu assento em direção ao SANITÁRIO do veículo por DUAS vezes. Na primeira, a CAINGANGUE acordou-se e facilitou a manobra. Na segunda, ninguém se fez de ROGADO: seguiram SONHANDO.
Explico neste ponto a DECEPÇÃO de não trilhar a trilha LITORÂNEA rumo ao Paraná: a trilha LITORÂNEA eu CONHEÇO. Sei das suas malandragens, dos seus MEANDROS. Eu conheço. E como também ME conheço, sei bem que não consigo dormir em ônibus, e, mesmo que conseguisse, gosto MESMO da parte da viagem em que se está na ESTRADA, entre um ponto e outro, DESLOCANDO-SE. Gosto também de atravessar estas jornadas, se possível, ABALADO pelo efeito de alguma ENTORPECÊNCIA.
Não fumo em casa há MESES e pretendo assim seguir, mas, estando em MOVIMENTO, decidi me permitir cometer alguns DESVIOS de rota. Por conta disso, havia confeccionado um singelo BASEADO para degustar no começo da madrugada, pouco antes da janta no JAPONEZ. Faria isso pelo FOLCLORE da cousa: é sempre GOOD VIBE fumar um naquela BANDA. E seria FATAL: fumaria um; comeria SALGADOS; voltaria pro bus e GASTARIA ONDA até que o sono chegasse.
Só que não HOUVE JAPONEZ, e a vontade de fumar aquele beck foi ficando cada vez MENOR dentro do meu espírito.
Isso até parar às QUATRO E DEZOITO em alguma bocada e notar que apenas QUATRO ou CINCO passageiros haviam se levantado para esticar as pernas durante os QUINZE minutos seguintes. Acordadíssimo que estava, os olhos ESTRALADOS, não pude ficar alheio a TANTAS referências e facilitações do destino: vou tacar FOGO nessa CRIANÇA e é AGORA.
Caminhei até as proximidades dos SANITÁRIOS e acendi o FEDORENTO. À medida que percebia o volume de vozes AUMENTAR, fui me EMBRENHANDO rapidamente banheiro adentro e me tranquei na primeira porta, onde acendi um CRIVO para dar uma DESBASTADA no AROMA. ESTOUREI o melãozinho. Contei quinze segundos, puxei a descarga e SAÍ, procurando conhecer a identidade da DUPLA que havia acabado de entrar no banheiro: eram os MOTORISTAS. Mas nada falaram.
Depois disso, comi um HORRENDO sorvete imitação de CORNETTO (que nem incluí na contabilidade porque me custou R$ 0,75), voltei pro meu banco e procurei CURTIR a viagem. Observei BEM o efeito que a noite exerce sobre as árvores que crescem à beira da estrada, e consultei meus mais íntimos pensamentos até qualquer coisa perto das SEIS da manhã, quando experimentei fechar os olhos em busca de repouso HIPNÓTICO.
Acordei TODOFIADASPUTA a cada DEZ minutos até que, lá pelas OITO, apesar do SONO EXIGENTE, decidi prestar atenção nas paradas provincianas. Uma delas seria PONTA GROSSA.
Não vou me alongar falando sobre a volta: eu já não possuía mais ILUSÕES. Eu já conhecia o trajeto, não portava maconha e não nutria qualquer esperança sobre o CONFORTO do meu assento. Apesar disso, estava TÃO monumentalmente cansado da MARATONA dos últimos dias que supus que bastaria que minhas costas encontrassem o banco para que eu DESMAIASSE miseravelmente até o meu destino.
Não foi o que aconteceu.
Dessa vez, vim ACOMPANHADO todo o trajeto. Até Curitiba, por uma barulhenta mulher e seus dois barulhentos filhos. De lá em diante por um ESPAÇOSO fumante INVETERADO, que volta e meia DESPENCAVA-SE sobre o meu ombro. Passei a viagem tentando PREGAR os olhos mas não rolou: tudo que consegui foi uma dor violenta no PESCOÇO e outra não tão intensa distribuída em partes iguais por cada um dos BRAÇOS.
É o preço que se PAGA para ir até o NORTE DO PARANÁ.
E isso que PONTA GROSSA fica no CENTRO-SUL.
VEGANS
Quem fez todos os contatos comigo pra participar desse evento em Ponta Grossa foi um camarada chamado Ricardo Talachia. Até poucos meses atrás, eu sequer sabia que ele existia, o que tornava toda a jornada algo bastante ARRISCADO. Vai que todo mundo lá é CHATO pra caralho? Vai que eles me ODEIAM há anos e só tão me chamando pra lá com o propósito secreto de me MATAR?
Algumas coisas me fizeram perder um pouco desse medo, como, por exemplo, o último parágrafo do último e-mail que trocamos, na SEXTA-FEIRA:
Nos vemos na segunda então, pra ter uma referência: eu uso uns
piercings no rosto, cabelo curto com mecha branca, sendo segunda,
sóbrio.
Caralho: UNS piercings no rosto + MECHA branca + sóbrio mediante CONDIÇÕES. Que figuraça deve ser o amigo Ricardo, pensei. Vai ser divertido. Pois na segunda acabei chegando MEIA hora mais cedo na rodoviária de Ponta Grossa e pude observar toda a FAUNA que por ali desfilava com alguma CALMA. Ainda que tenha avistado pelo menos UM cidadão que apresentava uma mecha branca bem na CRISTA do TOPETE, não havia o mínimo sinal de PIERCING naquela cara.
Passado algum tempo eis que surge a FIGURA, bem menos PERFURADA do que esperava, mas com a mecha incrivelmente ALVA destacada no meio do COCORUTO. Orelhas exibiam argolas e alargadores de LEVE; dois lados do nariz e o MEIO DA TESTA sustentavam BOLINHAS discretas. Gente fina, percebi logo nos primeiros CINCO minutos de conversa. Vai mesmo ser MASSA ficar aqui. Muito mais tarde, já devidamente acomodado em uma mesa de restaurante, descobri, entre conversas e no observar das PECULIARIDADES de seu prato, que Ricardo tratava-se de um VEGETARIANO.
Mais: um PUNK VEGETARIANO. Um VEGAN.
Mais ainda: dividia o apartamento com OUTRO PUNK VEGETARIANO.
Isso vai ser COMPLICADO, pensei. Punks vegetarianos geralmente são AFETADOS PRA CARALHO e ficam querendo te enfiar a ideologia deles GOELA abaixo como se fosse um NABO graúdo. Defensor FERRENHO do consumo de CARNE que sou, previ CONFLITOS. Como elemento de ACRÉSCIMO de pânico, descobri na seqüência que meu anfitrião, ainda por cima, era PAULISTA e levantei nova SOBRANCELHA: ih, caralho. Punk paulista geralmente se leva MUITO A SÉRIO. Em São Paulo, eles chegam a se BATER entre os SUBGRUPOS de TÃO a SÉRIO que se levam. Hmmm. Isso não vai dar certo.
Mas eis que ao longo das horas sou AGRACIADO com uma belíssima surpresa: a rapaziada era, como eles mesmos dizem, MUITÍSSIMO DE BOA, gente da mais FINA estirpe. Apesar de possuirem diversos cartazes com palavras de ORDEM e mensagens ANARQUISTAS coladas pela casa, ouvirem SHELTER e serem politizados pra CARALHO, nem Júnior nem Ricardo eram RADICAIS e souberam respeitar muito bem a minha predileção exacerbada por CARNE. No meio do TRAGO, contei-lhes algumas histórias de CHURRASCO. Durante uma janta, eles me ofereceram MACARRÃO COM CARNE DE SOJA. A isso chamamos de TROCA DE EXPERIÊNCIAS.
Quanto à CARNE DE SOJA, não é TÃO ruim, mas nem de longe merece ser chamada de CARNE. Tudo bem que o nome original da cousa é PROTEÍNA DE SOJA, mas, de qualquer forma, tá bem mais pruma ESPONJA cheia de ÁGUA, que, quando leva GARFO ou DENTE, espirra e faz CHHH que pra qualquer outra cousa. Voltei pra Porto Alegre SECO por uma PICANHA, um CORAÇÃOZINHO, uma carninha com SAL y SANGRE.
Compatriotas, se agilizem: churrasco JÁ!
UM CONTRATEMPO, UMA INTEMPÉRIE
Peguei, na última sexta, um FRILA publicitário. O trabalho consistia, na prática, em ter uma IDÉIA para a TERCEIRA peça de uma campanha composta de TRÊS peças. Em outras palavras: eu deveria escrever um ARGUMENTO prum ROTEIRO de TV. O produto: calçados INFANTIS.
Na quinta-feira me ligaram, pedindo um ORÇAMENTO para ter a tal IDÉIA. Consultei profissionais da ÁREA, que me deram uma PERSPECTIVA. Me fiz de DIFÍCIL: deixei que me ligassem de volta. Chutei meu preço, aceitaram.
Pois bem.
Na manhã da sexta reuni-me com o pessoal da agência, que me BRIFOU e me mostrou as peças já produzidas, e, inclusive, VEICULADAS. Meu prazo: terça, em um horário DECENTE. Eu estaria em PONTA GROSSA, mas mesmo assim me pareceu SIMPLES. Além do mais, qualquer EMERGÊNCIA poderia ser RESOLVIDA: meus anfitriões possuiam INTERNET.
Na sexta mesmo fiquei HORAS lutando contra MIM mesmo atrás da BENDITA idéia. Nada. Por fim, na madrugada de sábado pra domingo, tive TRÊS. Mandei-as e dormi feliz. Noite e madrugada de domingo: viajo pelos interiores de três estados e não me preocupo em NADA com o trabalho já executado. Qual seria a probabilidade de ser, de fato, procurado em PONTA GROSSA, para prestar qualquer tipo de AUXÍLIO ou RECAUCHUTE ao serviço? Me pediram UMA idéia, eu dei TRÊS - e das BOAS (ou, pelo menos, era o que eu achava). Eu experimentava a sensação de DEVER CUMPRIDO.
O Ricardo ainda não havia sequer me encontrado na rodoviária quando MEU celular tocou, exibindo no visor um número de OUTRO celular não gravado na memória, com prefixo 51. Era da AGÊNCIA. Nove e CINCO da manhã. Eu precisava REESCREVER as três idéias. Estavam MUITO compridas. Não caberiam em quinze segundos.
Saí da rodoviária direto para a faculdade e, da faculdade, direto para um restaurante, almoçar. Depois disso, tudo o que eu queria era DORMIR o máximo que pudesse, mas NÃO podia: tinha que corrigir os benditos ARGUMENTOS e mandá-los novamente o QUANTO antes. Quando terminei de fazê-lo, já era hora de sair NOVAMENTE.
Showzinho meio FAIADO na faculdade, voltamos pra casa. Janta de SOJA. Havia um coquetel em CURSO não muito longe dali. Fomos. Bebemos vinho e comemos amendoim. Surgiu a possibilidade de calibrar uma CERVEJINHA. Calibramos. TODAS. Voltamos até em casa ALOPRANDO AFU pelas ruas de Ponta Grossa. Fizemos algumas paradas estratégicas. O último horário que o relógio me mostrou antes que eu apagasse de vez foi 2:39, mas chuto que só pelas TRÊS consegui dormir. Eram 7:15 quando me levantei para a palestra.
Intervalo às 10h - entrevista para a rádio DIFUSORA e diversos alunos. O debate é retomado e vai até quase o MEIO DIA. Almoço arregado num restaurante CHIQUE e penso que, AGORA, finalmente vou dormir quando voltar à casa: NADA. Nova ligação da agência me diz que estou VIAJANDO, que meus roteiros são MUITO RUINS e que eu tenho que mudar TUDO, deixando as coisas mais simples.
Lá vou eu pra frente do computador, e, durante QUATRO horas, acumulando DUAS noites mal dormidas e uma RESSACA cavernosa, consigo parir DUAS novas idéias totalmente NOVAS.
Não dá tempo de fazer mais nada: envio e corro para pegar o ônibus.
Respostas? Ainda não as tenho.
Mas só quero ver no que isso vai dar.
EVENTUALIDADES
Fiquei surpreso com a quantidade de pessoas presentes aos debates da
II SEMANA DE INTEGRAÇÃO DA RESISTÊNCIA. No primeiro dia, apesar das OITO horas da manhã e da CHATICE do debate sobre a reforma universitária, o auditório estava CHEIO. Fraquejei, até, diante da possibilidade de encontrá-lo VAZIO no dia seguinte, quando seria a MINHA vez de debater.
Descobri logo que cheguei que o FERRÉZ não vinha mais. Primeiro, se cogitou a hipótese de FALHA na organização do evento, mas, logo se ficou sabendo que foi o PRÓPRIO Ferréz quem decidiu não ir, já que não se tratava de um evento da CAROS AMIGOS, revista para a qual ESCREVE.
Acho bastante compreensível que ele não disponha da manhã de uma terça-feira para se deslocar de São Paulo até Ponta Grossa. Eu mesmo, só fui até lá porque estou DESEMPREGADO de um emprego FIXO, podendo esculpir EU mesmo os meus HORÁRIOS ao meu bel prazer. Caso contrário, reconheço que ficaria DIFÍCIL ir até lá, mas, de todo modo, eu certamente TENTARIA.
Fato é que COMENTA-SE que o FERRÉZ não só REFUTOU a presença como MENOSPREZOU o evento, dizendo que, por não ser organizado pela CAROS AMIGOS, não era NADA. Dizem que ele teria, ainda, acrescentado que é, SIM, escritor de livros INDEPENDENTES, mas que isso não lhe garantia o seu sustento, e que ele precisava TRABALHAR. Ok: aceitáveis os TERMOS. Mas parece que o TOM que usou foi por DEMAIS RÍSPIDO. Uma pena. Gostaria de conhecê-lo.
De todo modo, o fato é que, no dia seguinte, as atenções estariam agora ainda MAIS voltadas para mim, já que AGORA eu era o único ESTRANGEIRO de fato presente à mesa. A Tânia Olivatti e a Patrícia Lopes eram CRIAS da CASA, e a Eliete Marocchi, ainda que tenha feito mestrado em Santa Catarina, também havia sido aluna da UEPG no início de sua carreira acadêmica.
Buenas.
Chega a manhã de terça.
OITO e MEIA da matina as atividades deveriam ter início, então perto das SETE eu já estava de pé. Na verdade, "de pé" é apenas modo de dizer: eu havia sido ALERTADO do horário pelo Ricardo e jazia esticadão na CAMA, mal acreditando que o meu sono havia durado apenas UM PISCAR de olhos. Consultei um relógio: 7:15. Pensei - vou dormir até as OITO. Não são nem DEZ minutos entre lavar a cara, escovar os dentes e caminhar até a UEPG. Preciso dormir um POUCO mais.
Novo PISQUE de olhos: acordo às 7:59. Ainda cultivo a EMBRIAGUEZ da noite anterior, e não consigo me convencer de que meu novo sono de quase HORA durou novamente tão POUCO. Joguei uma água GLACIAL na lata, limpei a dentadura da SABURRA horrível e saí na pernada incrédula até o CAMPUS. Chegando no auditório parcialmente cheio, me encostei numa cadeira e procurei APAGAR mais um tantinho, até que tudo começasse efetivamente. Não consegui, perturbado, agora, por um NOVO problema: começava a me VISITAR, ainda que DISCRETA, a nasty CAGANEIRA DE CEVA.
Recorri ao PRIMEIRO banheiro que vi pela frente, ignorando COMPLETAMENTE o fato de estar em uma universidade PÚBLICA. Por tradição, não existe PAPEL neste tipo de RECINTO, o que deixou a minha obrigatória MIJADA matinal ainda mais DRAMÁTICA. Soltei uns FLATOS necessários pra ver se aliviava a pressão. Respirei fundo e tentei me ACALMAR.
Mal saí do banheiro o Ricardo já veio anunciar que, em breve, seria chamado para COMPOR a mesa. Eu seria o ÚLTIMO a falar. Após um curto texto de apresentação do PAINEL e, respeitando o DITO POPULAR, fui o PRIMEIRO a ser chamado. Tomei meu lugar entre PALMINHAS. Depois foi a vez de Eliete; depois Tânia e Patrícia. Ricardo era o mediador. Foram as duas alunas da UEPG quem deram ABERTURA aos debates, falando sobre algo que eu ainda não conhecia, denominado FOLK COMUNICAÇÃO.
Até onde o SONO, a ressaca e a luta contra a CAGANEIRA me permitiram entender, a FOLK COMUNICAÇÃO relaciona-se com as formas de comunicação que o POVO cria de maneira quase INVOLUNTÁRIA, como, por exemplo as frases de parachoque de caminhão. O trabalho com que elas foram premiadas em um evento dedicado à FOLK COMUNICAÇÃO, inclusive, fala precisamente sobre isso.
Ainda que não tivesse muito a ver com o tema da mesa (jornalismo literário), interessei-me um tanto pelo ASSUNTO, mas confesso que não fui capaz de oferecer o MÁXIMO da minha concentração à sua exposição. Meus olhos, cada vez mais VERMELHOS, insistiam em querer fechar, e eu senti diversas vezes a musculatura TODA do meu TRONCO se ESFRANGALHAR. Tive de utilizar de muita MAESTRIA para firmar os músculos do PEITO e dos BRAÇOS e, ao mesmo tempo, ESTRANGULAR os ESFÍNCTERES lá em baixo pra não dar PROBLEMA.
Enquanto isso ia acontecendo, eu ia bebendo ÁGUA.
Bebendo MUITA água.
Mas eis que esta prática me revelou um OUTRO dilema: quanto mais água eu bebia, mais vontade eu tinha de ESCORREGAR UM CREME. Se, por outro lado, eu NÃO bebesse água, não só meus lábios e minha língua como TODA a minha LARINGE se ressecava de maneira a configurar uma região INÓSPITA na minha GARGANTA. Passei a MODERAR meus goles, molhando a pontinha dos BEIÇOS nágua e os LAMBENDO na base da GENTILEZA.
Foi quando o microfone foi passado à Eliete que os problemas começaram a aumentar. Ela falaria sobre NOVO JORNALISMO e sobre como o seu SURGIMENTO só foi possível depois que o REALISMO foi inserido na literatura. Não sei se foi o tom CALMO e pausado de sua voz aveludada ou se foi toda aquela água que já havia ingerido àquela altura, mas quando ela chegou na METADE da sua EXPLANAÇÃO, eu não me agüentava mais. Já estava - com o perdão do trocadilho - PEDINDO PENICO.
O ADOBE PHOTOSHOP que me percorria os INTESTINOS já estava chegando ao seu limite, e não queria mais esperar. No fundo da minha CUCA, ouvia claramente a música da BLITZ que reza estou há dois passos/ do paraíso e suava FRIO. Afastei a cadeira da mesa e comecei a MARTELAR os pés no chão. Olhei pro Ricardo por trás do ombro da Eliete. Ele me olhou de volta.
Naquele exato momento, fiz menção de me INCLINAR e lhe SUSSURRAR no ouvido segura as pontas aí que eu vou ter que dar uma CAGADA porque eu não me AGÜENTO mais, mas ele voltou os olhos para a platéia quando a MESTRA ao meu lado fez um pequeno MEA CULPA, desculpando-se pelo EXTENSO de sua narrativa, e afirmando que já estava terminando sua EXPOSIÇÃO. Não havia mais volta: eu teria de encarar o desafio BÊBADO, com raras horas de sono desfrutadas e às margens de um DESASTRE ambiental.
Nunca a expressão HOLY SHIT encontrou maior RESPALDO do que agora.
Olhei para a platéia, um tanto SONOLENTA e aparentemente ABORRECIDA pelas conversas MORNAS apresentadas até então. Um gordinho cabeludo, sentado lá pela QUINTA fila, repousava a cabeça sobre as DUAS mãos no rosto, como que pedindo CLEMÊNCIA. Em vias de me DISTRAIR do fato de que tinha de me manter ACORDADO, evitar um DERRAMAMENTO e falar de IMPROVISO durante, pelo menos, uma MEIA HORA, resolvi fazer da REDENÇÃO daquele gordinho o meu OBJETIVO.
Me passa esse microfone que vocês vão ver, pensava.
Vou acordar esse gordinho.
Então o microfone me foi passado.
Após um breve agradecimento às pessoas que possibilitaram a minha ida a Ponta Grossa e à cidade em si, que me havia recebido de braços abertos, disparei a METRALHADORA. Larguei sobre aquela rapaziada TODO o velho e característico CHARME CZARNOBAI, com seus trejeitos de MUNHECAS e elipses VERBORRÁGICAS a que todos estamos acostumados. Quando fiz a platéia RIR pela primeira vez, lembrei-me de consultar o gordinho: ele agora tinha os dois olhos ARREGALADOS e um largo sorrido RASGADO no meio da cara.
Eu estava satisfeito: VIM, VI E VENCI.
Dez e meia encerrei minha PERFORMANCE; veio o INTERVALO. Eu já não tinha mais qualquer vontade de ir ao banheiro, então não me MOVI. Quem se moveu, entretanto, foram este repórter da DIFUSORA e os ALUNOS, às dezenas, todos ÁVIDOS por entrevistas. Respondi suas perguntas, troquei e-mails, senti-me fazendo DIFERENÇA. Foi muito bom saber que as minhas idéias encontraram ECO em tantos corações. Fiquei realmente surpreso.
Findo o INTERVALO, abriu-se a rodada de PERGUNTAS. A grande maioria delas foi ENDEREÇADA a mim. Eliete respondeu muitas, também. As meninas FOLCLÓRICAS, infelizmente deslocadas na mesa, responderam apenas DUAS. Perto do meio dia, o painel encontrou seu FIM. Novamente, fui cercado por alunos e curiosos, que me fizeram nova BATERIA de perguntas. Saí de lá contente por ter gerado TAMANHA comoção em uma faculdade em que, segundo me disseram, os alunos SOFREM com o excesso de BITOLAGEM. Botei a rapaziada pra pensar, questionei tudo que os seus professores haviam dito e lhes mostrei que EXISTE, SIM, um OUTRO caminho possível.
É realmente MUITO BOM estar numa posição em que os outros te ESCUTAM e te RESPEITAM, mas melhor ainda é PODER, com isso, fazer alguma DIFERENÇA.
E acho que isso eu FIZ.
Por fim, só fui encontrar ALÍVIO num banheiro depois da UMA da tarde, mas, mesmo assim, VALEU A PENA. Organismo véio tá em dia: ê MUSCULATURA!
E AÍ, CLARO, A MELHOR HISTÓRIA EU DEIXEI PRO FIM
Praticamente não DORMI no Paraná, o que me deu ainda MAIS convicção de que ele EXISTE.
Da primeira vez que fui ao Rio de Janeiro, em um MOTORHOME, com a winston, o Pingarilho e o Ludovico, existia essa piada de que o Paraná NÃO EXISTIA, já que passamos por ele sem perceber a sua existência. DEPUNHAM contra, ainda, o fato de não haver uma identidade muito clara do PARANAENSE em si, ao contrário, por exemplo, do gaúcho, do catarinense, do mineiro, do paulista e do carioca - só pra citar os estados pelos quais passamos.
Enfim.
Apesar do sono TERRÍVEL que experimentava por volta das 18h de segunda, resolvi criar coragem e acompanhei o Ricardo e o Jeferson em PEREGRINAÇÃO rumo à faculdade, já que estava previsto praquele dia um singelo SONZINHO de violão e voz. Hmmm. Senti cheiro de RAUL SEIXAS no ar, mas, mesmo assim, me deixei levar pela EMOÇÃO. Eu queria VIVER o MÁXIMO que eu pudesse por lá, já que a cidade exalava um VIGOR que há muito não sentia.
Chegando no DESTINO faculdático, o sonzinho que encontramos estava MUITO caído. Ainda não entendi porque os VIOLEIROS não fizeram uso dos microfones e demais PARAFERNÁLIA montada a pouco mais de DEZ metros de distância dos banquinhos onde ficaram sentados. Fato é que do jeito que a coisa foi feita, dava a impressão não de que aquilo não era um SHOW, mas apenas uma RODINHA DE VIOLÃO TRADICIONAL de faculdade de comunicação.
O que realmente valeu a pena nessa INCURSÃO noturna à faculdade foi uma LOIRA monumental que ficou RONDANDO o FUZUÊ. Por sinal, isso foi algo que me surpreendeu muito positivamente em PONTA GROSSA: como tem MULHER. E como tem mulher BONITA. Tudo bem que o fato de ser uma cidade UNIVERSITÁRIA sempre ajuda pra caralho, mas PORRA. A FELINAGEM comendo SOLTA. Me ARREPIEI. Dizem meus CICERONES que isso acontece porque a migração de SANTA CATARINA é FORTE. Entendo e CELEBRO. Quase quero MORAR aqui.
Mas fato é que a LOIRAÇA passou por ali, trocou uma idéia com um SUJEITO encostado numa barra de ferro e depois se ESVAIU. Foi pouco antes de começar a rolar um RAUL. Aí decretamos nossa DESERÇÃO.
Nesse interim foi que provei a tal CARNE DE SOJA, misturada a um molho de tomate com MASSA, também conhecida como a JANTA DE SEGUNDA-FEIRA. Não foi total SALVAÇÃO DA LAVOURA nem fez a ALEGRIA das minhas LOMBRIGAS: caso encontrasse a possibilidade de comer um XIS por aí, é certo que o FARIA. Mas não fiz. Vamos admitir: no fim, até que deu uma SUSTÂNCIA, ainda que eu tenha me RESSENTIDO da ausência duma CALNINHA esperta.
Pouco tempo depois da janta, partimos em PERNADA rumo ao local onde estava sendo realizado o COQUETEL de abertura de uma exposição de FOTOS de mulheres de diversas nacionalidades que haviam escolhido FOZ DO IGUAÇU como seu LAR. Mas isso não importava. Importava que havia VINHO TINTO & BRANCO e AMENDOIM JAPONÊS para a degustação. Mesmo TEREZA BATISTA que estava, resolvi ARRISCAR a continuidade.
Uma das coisas que eu mais gosto nas cidades do interior é esse LANCE de poder caminhar pra cima e pra baixo de NOITE sem maiores preocupações. Eu digo sem MAIORES porque preocupações EXISTEM, ainda que eu ache GRAÇA quando me mostram os pontos SINISTROS e me apontam SÍTIOS propícios ao CRIME.
Foi nessa caminhada noturna que conheci o CALÇADÃO e seus LOGOTIPOS DE PIZZARIA/ BOLINHO INGLÊS/ SORVETÃO desenhados em MOSAICO no chão querendo fazer referência à famosa TAÇA da Vila Velha - que eu NÃO conheci. Meu pai me havia dito é barbada. Tem ônibus a cada 15 minutos e é baratíssimo. Tu TEM que ir lá, mas parece que na prática não é bem assim. Não tem tanto ônibus, não é tão barato e nem dá pra ir assim NO MAIS. Rola todo um CERIMONIAL BUROCRÁTICO, parece, e além disso, eu não dispunha de muito tempo.
Descobri depois que meu pai só havia pisado em Vila Velha UMA vez, e há 27 anos.
Enfim.
Depois de cerca de vinte minutos a pé pelas ruas do centro, encontramos o tal LUGAREJO onde rolava o COQUETEL. O vinho era GARIBALDI, algo que não bebia desde o ENECOM de 2000, mas o CONHECIA em PROFUNDO. Sabendo de suas propriedades DOR-DE-CABECÍSTICAS, optei pelo consumo MODERADO. Aliás, MODERADÍSSIMO: um copinho de plástico de 200ml do branco; outro do tinto. UMA TONELADA de amendoim japonês por cima pra rebater.
A mostra não era lá grandes cousas: entre 30 e 40 painéis de TECIDO com cerca de 1 x 0,5 m, cada, mostrando a foto de uma mulher e uma FRASE dita por ela. Lembro apenas da SEGUNDA melhor frase, ELABORADA por uma ÍNDIA paraguaia Meu sonho é andar de helicóptero. A campeoníssima, contudo, era de uma POLACA or something, que havia sido RETRATADA tomando um chimarrão cheio de FLORZINHAS estranhas e dizia um troço TOTALMENTE SEM SENTIDO, do tipo Quando cheguei aqui tive que me acostumar com tudo, mas tá tudo sempre igual e sempre mudando.
Depois de assinar o livro de presenças com o nome de AMON-RÁ FAGUNDES, parti do CENTRO CULTURAL rumo a uma rua muito próxima da UEPG (e, conseqüentemente, do apê onde eu estava HOSPEDADO) onde diversos bares COEXISTEM lado a lado. Logo na SENTADA já levei uma LIÇÃO de PECHINCHA dos amigos que lá vivem: de R$ 3, a AMPOLA de Skol nos foi facilitada por R$ 2,75. Fiquei momentaneamente CHOCADO pela habilidade LIBANESA demonstrada. Foi uma verdadeira INSPIRAÇÃO.
Também fiquei MARCADO pelos FININHOS que os carros tiravam das mesas e das pessoas sentadas nas mesas na calçada, conforme descrito no POST ORÇAMENTÁRIO lá embaixo. Me ADMIREI. E me admirei TANTO que, lá pela UMA da matina, quando o FLUXO de veículos na rua BAIXOU consideravelmente e o de ÁLCOOL na minha corrente sangüínea mal alimentada e mal dormida AUMENTOU, eu SALTEI a grade de proteção e comecei a SAMBAR no meio da PISTA, desafiando os poucos corajosos que ainda por lá TRAFEGAVAM.
Uma rapaziada na outra esquina começou a APLAUDIR e VIBRAR efusivamente a minha PERFORMANCE. Gritinhos femininos de "UWUL" e tudo. Alguns minutos atrás, tínhamos visto esses motoqueiros passarem por entre as mesas SENTANDO o BRAÇO uns nos outros, protegidos pelos capacetes, enquanto GARGALHAVAM abertamente. Um tempo depois, um maluco de SKATE tentava dar uns GRINDS numa das motos estacionadas. Além de nós, eram os ÚNICOS na rua naquele AVANÇADO da noite.
Impulsionado pelo APOIO da torcida, fiz uns APOIOS, virei umas CAMBALHOTAS e saí de MOONWALK.
A galera DELIRANDO.
Por fim, corri até um dos PILARES que sustentam uma HORRENDA placa redonda onde se lê PONTA GROSSA - ESTOU GOSTANDO e tentei ESCALÁ-LO, mas não me DEI. Do outro lado da rua, o Ricardo fez a mesma coisa, ambos SOÇOBRANDO na tarefa.
Fato é que a essa altura eu já estava MUITO TCHUCO, o dia estava mesmo MUITO quente e eu resolvi propor um DESAFIO. Já que teríamos de ESCOLTAR duas meninas até em CASA, sugeri que o fizéssemos trajando apenas nossas CUECAS. A princípio a rapaziada EVITOU o assunto, mas bastou que eu removesse a camiseta para que uma REAÇÃO EM CADEIA tivesse início, e o controle sobre o resto fosse total e irremediavelmente PERDIDO. Quando me dei conta, estavam todos com suas RESPECTIVAS calças debaixo dos braços e a camiseta AMARRADA na cabeça. Não havia mais VOLTA.
Durante quase uma hora, tocamos o horror nas ruas de Ponta Grossa entoando CÂNTICOS improvisados e cometendo BRAVURAS diversas, como chutar sacos de lixo recheados de GARRAFAS, simular atos SEXUAIS com CARROS de alunos do DIREITO e exibir breve nu TOTAL após adentrar uma casa COALHADA de MOÇAS em algum ponto do trajeto.
Em certa altura da JORNADA, arrebanhamos um companheiro CÃO que foi rapidamente batizado de SPIKE, e que nos proporcionou alguma segurança quando nos deparamos com uma GANGUE de CHINELOS, que cheirava COLA e se movia de forma ameaçadora pelas SOMBRAS da noite até que avistou um TRIO DE CUECAS e regojizou, em ESPANTO. Diziam olha a PIRA dos cara e riam. Alguém comentou ainda bem que a gente tava só de cueca, senão certamente iam nos assaltar.
Pode crer.
Pouco mais de cinco horas depois, já no auditório da faculdade, me preparando para começar a mesa, a PRIMEIRA pessoa que eu encontrei me disse fiquei sabendo que tu andou correndo de CUECA aí pela noite de Ponta Grossa e riu.
Caralho.
Obviamente não me esqueci que estava numa cidade do INTERIOR, mas isso também já era EFICIÊNCIA DEMAIS em matéria de PROPAGAÇÃO de notícias. Ao longo do dia, diversas pessoas vinham perguntar aos PROTAGONISTAS locais se era mesmo VERDADE que o PALESTRANTE havia desfilado quase NU por aí.
Era.
E pior: na casa COALHADA de meninas, uma delas tirou FOTOS.
Só lembrei DEPOIS.
Tomara que alguém ESCANEIE e me MANDE por e-mail.
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