índice

Projeto Vagabond
Publicado originalmente no blog Bugio, em julho de 2009

[disclaimer]

Já faz algum tempo que eu venho pensando em botar em prática um antigo experimento, cujo MOMENTO EUREKA remonta ao primeiro ou segundo PAR de anos FACULTATIVOS - não exatamente no sentido de OPCIONAL, muito embora alguns possam argumentar que ingressar em uma FACULDADE é sempre um exercício de ESCOLHA, ainda que outros possam também defender que, neste contexto, esta palavra tem um OUTRO sentido, mas pelo menos por ora e para fins de FLUXO e RITMO, convido-os todos a NEVERMIND THE SEMIOTICS e seguir adiante.

(…)

Coisa de uns vinte ou trinta dias atrás decidi vir a São Paulo. O lance é que eu tenho mais de vinte ou trinta amigos morando por aqui. TODA SANTA VEZ que venho pra cá sempre deixo de ver mais da METADE (no mínimo), o que me causa grande tristeza e muita DOR no CORAÇÃO.

Pois bem.

A principal motivação dessa viagem envolve uma celebração não-convencional de casamento que corre grandes riscos de entrar pra história como SÍMBOLO de uma ERA inteira que se conclui - e, naturalmente, outra que se inicia. O curioso é que esta POTENCIALIDADE toda está fortemente associada ao fato do evento atrair uma considerável parcela de amigos em comum - o que APAZIGUA, ainda que apenas em parte, o meu principal problema toda vez que visito a cidade.

Sendo assim, tendo em vista minha extensa rede AMIGÁTICA no FUMAÇÃO e perfeitamente ciente de que não atravesso o momento mais feliz da minha história financeira, resolvi chamar na SUSTENTABILIDADE SOCIAL e combinar as NECESSIDADES e os RECURSOS da maneira mais EFICAZ possível.

Decidi escrever para 40 amigos diferentes, pedindo-lhes abrigo por apenas UMA noite durante os oito dias que pretendia passar na cidade. Calculei que ficando em uma casa diferente por noite e encontrando um número bem honesto de 5 amigos por dia conseguiria ver todos os 40 nesse período e, com alguma sorte (e o casamento), quem sabe até poderia multiplicar esse número por 2 ou 3.

(…)

O elaborado ESTRATAGEMA descrito acima trata-se na verdade de uma espécie de versão POCKET do meu PROJETO VAGABOND, que basicamente consiste de passar períodos relativamente longos de tempo sem endereço fixo, morando com diferentes amigos por períodos extremamente curtos de tempo (para não torrar a paciência de ninguém durante o processo).

Na primeira incursão PRÁTICA do projeto, great and massive success: das 40 pessoas contatadas, 15 me ofereceram ABRIGO.

Outras 4 ou 5 (às quais não havia sequer escrito) seguiram o exemplo.

Por questões de LÓGICA e LOGÍSTICA acabei reduzindo esse número para 5, o que na prática significa que nos próximos oito dias vou viver em intervalos de 24 a 56 horas em apartamentos na Bela Cintra, Vila Madalena, Itaim Bibi, Higienópolis e Pinheiros.

Não sei exatamente o que esperar, mas espero descobrir se o valor dos deslocamentos e o inconveniente de carregar uma mochila relativamente pesada pra cima e pra baixo compensa financeira, geografica e socialmente.

Para acrescentar uma camada EXTRA de dificuldade à experiência, consegui a façanha de pegar um frila na semana passada, o que me obrigará a testar também minha capacidade de trabalhar todo dia em um computador diferente, em um ambiente diferente, sob condições totalmente imprevisíveis.

Nota final: de acordo com a POSITIVIDADE da resposta da rapeizo no quesito hospedaria eu seria capaz de passar quase SEIS meses morando em São Paulo de favor se passasse apenas UMA MÍSERA SEMANA na casa de cada camarada.

Food for thought.

PROJETO VAGABOND SP 2009
Teoria do Churrasco™ STYLE
(começa aqui o post mais longo da história)




Só pra ficar mais BONITAÇO do ponto de vista gráfico, eis algumas linhas em fonte FINA desempenhando um papel de quase-epígrafe.

INTRODUÇÃO: Escolhi a ESMO alguns dias de julho para testar os limites e possibilidades REAIS de uma HIPÓTESE antiga: reduzir a ZERO as despesas com MORADIA vivendo como uma espécie de CIGANO, nômade ou VISITA ETERNA, buscando abrigo por CURTOS períodos de tempo nos TETOS variados de um VASTO número de amigos. Batizei esta empreitada de Projeto Vagabond.

BETA TESTE: Em sua versão original, o projeto defendia uma permanência mínima de 7 e uma máxima de 14 dias em cada endereço, mas neste caso específico - e para fins experimentais - adotei uma versão mais ENXUTA: o objetivo seria passar entre um e dois dias em pelo menos seis lugares diferentes. A idéia seria posta à prática em São Paulo, maior cidade do país e uma das maiores do mundo, onde possuo uma EXTENSA rede de CONFRADES dispostos a me oferecer POUSO.

CURIOSIDADE: Entre os escolhidos estavam, por COINCIDÊNCIA, o dia mais frio da década no Rio Grande do Sul e o dia fora do tempo segundo o calendário Maia. Por CONVENIÊNCIA, however, figuravam nesta seqüência o dia da Pecha Kucha Night que a rapeizo da Box1824 resolveu organizar nas internas e o dia em que um casal de amigos contrairia matrimônio em uma cerimônia por demais HETERODOXA em diversos sentidos - mas disso eu só teria certeza bem mais tarde.

MÉTODO: Enviei um e-mail falando sobre a minha idéia de passar uma semana em São Paulo dormindo cada dia em uma casa diferente para uma lista de aproximadamente 40 amigos. Cerca de 15 responderam. Por motivos de logística e lógica (conforme revelado anteriormente), desenhei um roteiro composto de apenas 6 LARES e entrei em contato para combinar os detalhes. A título de PAGAMENTO pela hospedagem, me dispus a oferecer uma dessas três opções a seguir aos meus anfitriões: serviços de culinária avançada; intermináveis relatos de folclore pessoal e teorização freestyle (a boa e velha CONVERSA); ou um passo de dança que seria desenvolvido sob medida e NA HORA. Todo mundo preferiu a segunda.

TEORIA DO CHURRASCO ™: Sugere uma correspondência direta entre a maneira com que um grupo de pessoas consome CHURRASCO e conteúdo na internet. Um quilo de picanha é devorado muito mais rápido PICADO do que cortado em FATIAS. Da mesma forma, seis horas de vídeo ou vinte páginas de texto são melhores aproveitados na rede quando distribuídos em centenas de vídeos de 5 minutos e dezenas de posts ou tweets.

Findo este primeiro movimento, vamos ao que REALMENTE interessa.

Curtam muito (no mínimo):

SEGUNDA . 20/07/09

ODEIO ACORDAR DE MANHÃ: Mesmo assim não teve jeito: meu vôo decolava do Salgado Filho às 7h, o que significa que no máximo às 6h precisava estar no aeroporto, então colocaria o despertador para as 5h. Nenhum problema se eu não tivesse ido dormir às 4h.

CAFÉ KIBON: Pra ajudar o tempo a passar mais rápido e, ao mesmo tempo, manter-me acordado, aceitei pagar R$ 6 pelo combo torrada + chocolate quente num tal de Café Kibon. Pareceu-me mais honesto, satisfatório e (principalmente) bem menos AIDS NO CU que os equivalentes no McDonalds, que certamente teriam 1/3 do tamanho e custariam (por baixo) o DOBRO do preço.

WEBJET: Apesar do Xerxenesky ter me pintado um FEÍSSIMO retrato da Webjet, não achei a comida ruim, os assentos apertados ou as aeronaves inadequadas em qualquer momento. Fora os constrangedores “web bom dia” e assemelhados, até que tudo correu muito melhor do que o esperado. Võo no horário, funcionários CORTESES (bom plural), dimensões confortáveis. De ida, uma viagem sem maiores SOLAVANCOS.

GUARULHOS: Já foi mais CU DO MUNDO, mas hoje em dia mais o percebo como um BAIRRO AFASTADO do que qualquer outra coisa. O famigerado Airport Bus Service, que OUTRORA já fez mais jus ao seu nome operando apenas no circuito CUMBICA-CONGONHAS, agora oferece quatro ou cinco LINHAS diferenciadas, cada uma apontando seu VETOR num trajeto diferente. Como minha primeira parada era na Bela Cintra, tomei o COLETIVO que percorria o Caminho dos Hotéis - ou algo que o valha - e desci na Paulista.

PRIMEIRO ENDEREÇO: O simpático prediozito ROCOCÓ na esquina da Bela Cintra com Fernando Albuquerque demorou uns vinte minutos mais para me conhecer, já que - como sempre - mal DESEMBARQUEI do bus e já cometi a primeira GAFE GEOGRÁFICA da epopéia. O Diego me disse “desce na direção dos carros” e eu entendi pra descer na direção CONTRÁRIA aos carros. Resultado: fui parar quase no número DOIS MIL quando o dito-cujo repousa na vizinhança dos QUINHENTOS. Pior: lomba abaixo all the way, o que significa LOMBACIMA na volta sem fim. Extreme exports FTW.

ARREDORES: Fora a proximidade da Paulista e do metrô, só percebi a imensa quantidade de restaurantes de qualidade razoável a preços deveras honestos até mesmo para padrões de Porto Alegre: menos de 15 reais por refeição com bebida = GREAT SUCCESS. Arrisquei um GREGO no primeiro dia - que de grego, mesmo, fora os donos, só tinha uma berinjela recheada com carne e coberta de queijo GRAXOSA PRA BURRO - e um outro com uma CARTELA ainda mais MEDITERRÂNEA na manhã seguinte. Nenhum PICO, mas também nenhum VALE.



FACILIDADES IN-HOUSE: Havia, na casa dos NOIVOS, generoso espaço em um quarto inteiro à disposição EXCLUSIVA - além de chaves para conferir-me o direito de ir-e-vir (do qual não GOZEI por questões profissionais que abordo ADELANTE). Neste quarto também havia um computador só para mim, no qual já me esperava um perfil de CONVIDADO personalizado com FOTO no Windows - o que veio muito a calhar, levando-se em conta que precisei usar as primeiras NOVE ou DEZ horas em solo paulistano para trabalhar.



SCRATCH: Duas semanas antes de embarcar, completamente ESTAGNADO e sem nenhum COMPROMISSO à vista, resolvi por o Projeto Vagabond em prática e comprei as passagens. Uma semana depois recebi um convite irrecusável para reescrever o roteiro do piloto de Scratch, série de animação produzida pela Cápsula, produtora audiovisual sediada em Porto Alegre. Na sexta-feira anterior ao embarque apresentei e aprovei a escaleta. Segunda-feira, pouco mais de duas horas depois de chegar em São Paulo, começaria a trabalhar no roteiro.

ARABESCO ACIDENTAL: Sete horas de trabalho ininterrupto mais tarde rolou um MASH-UP gastronômico fodaço misturando CONFORT FOOD com RANGO INDU e CAMINHONEIRO’S BÓIA. Enquanto fumava uma BITUCA e dava muita BITOCA numa AMARULINHA esperta, Titi (aka A NOIVA) destroçava frango e abóbora na LÃMINA e no FOGO, acrescentando quantidades absolutamente ESPONTÂNEAS de sal, pimenta, curry e shoyu à mistura no intuito de fazer uma SOPA. Apesar do RANDOMISMO comendo solto, no fim das contas deu tudo certo: a tal da sopa virou um CREMÃO, mas mesmo assim ficou uma DELÍCIA. Acredito que parte do mérito possa ser creditado ao Rony, que trabalhou como uma espécie de DIRETOR DE ARTE, ajudando a controlar a quantidade dos ingredientes à medida que a Titi ia despejando-os no CALDEIRÃO.

BAD TRIP DO DIA: Depois da janta tive de VOLTAR a trabalhar no roteiro, o que impediu que eu tomasse um trago na elegância com os RAFAÉIS Grampá e Coutinho (que eu não veria mais até o final da viagem, posto que estariam BRILHANDO MUITO na Comic-Con, em San Diego) e o amistoso RENATÃO PARADA (com quem trombaria bastante nos dias vindouros). Fui pregar os olhos por volta de 5 da matina, com menos de 50% do roteiro resolvido e uma leve sensação de culpa castigando a CACUNDA. Cansado, bêbado e drogado que estava, pelo menos dormi bem pra caralho.

TERÇA . 21/07/09

METRÔ QUEM CURTE? Eu curto muito, e sempre que estou numa cidade que TEM procuro andar nele. O lance é que, apesar de ter 30 anos na cara, eu NUNCA tinha andado SOZINHO de metrô. Sempre tinha um CUPINCHA, um CAPANGA, um COMPARSA do meu lado. No começo da noite dessa terça, depois de passar a tarde FINALIZADO no meu quartinho FINALIZANDO o roteiro, seria diferente. Depois de lavar a louça, esperar o Diego chegar em casa para lhe devolver a chave e encontrar a Titi num táxi no meio da rua, eu experimentaria uma leve tensão comprando BILHETES com essa cara de GRINGO (e uma mochila de 6 quilos pendurada nas costas) e depois mergulharia nos DISSABORES de uma PÍCOLA vergüenza ao ficar esperando que a CATRACA que me devolvesse o bilhete inserido - tal qual fazem os terminais do metrô de Paris e, num passado não muito distante, FIZERAM, também, os de São Paulo.

SEGUNDO ENDEREÇO: Em novembro, quando passei pela última vez pela cidade, eu já tinha gastado algumas boas horas na sala do apartamento que o Parada dividia - então - com um outro camarada qui s’appelait Renan. O mundo, porém, dá voltas, e nove meses depois quem CO-HABITA a aconchegante PARCELA de primeiro andar de prédio calmo na Harmonia é agora um outro CABRA chamado Rodrigo Levino, descrito muitas vezes como “um cara legal pra caralho” ou “um dos melhores (senão O MELHOR) repórteres que a nossa geração produziu”.



ARREDORES: Aqui os caras tão MUITO baixados. O apartamento fica no PLEXO da Vila Madalena que, muito embora já tenha enfrentado dias melhores e hoje sofra com a invasão de variadas HORDAS, ainda conserva o seu APLOMB SINTÁTICO [ns]. De qualquer forma, centenas de barzinhos, restaurantes e serviços variados estão muito próximos, com a maioria das distâncias calculadas no PASSO. Uma estação de metrô fica perto, mas ainda mais perto fica a Mercearia São Pedro - que até merece um capítulo à parte, mais adiante.



FACILIDADES IN-HOUSE: A idéia inicial era dormir num colchãozito HUMILDE porém SINCERO montado pelo Parada no chão do seu quarto, mas quando Levino decidiu passar a noite na casa da namorada Bea e me ofereceu sua própria cama (com algo entre 6 e 16 travesseiros de todos os tamanhos espalhados pela superfície), senti o CALOR QUENTINHO da sorte sorrindo - como sempre - para os BONS. O computador, apesar da notável desvantagem de ser um iMac, sevia bem ao seu propósito: conferir e-mails, fracassar na realização de contatos, pesquisar informações aleatórias na web. Diferencial fatal: Parada possui CARRO, o que amplia consideravelmente a área de INFLUÊNCIA ao mesmo tempo que diminui os CUSTOS com deslocamento. KIDIDS!



DRAKE’S: Sempre que venho a São Paulo procuro mascar um BURGUER GOURMET (funciona melhor quando pronunciado com aquele sotacão meio MASSACHUSSETS, com os ÉRRES falados com a língua toda dobrada pra dentro, contra o céu da boca). Amo muito o JUBILEU BURGER do Ritz e o SUPER BURGER da Hamburgueria Nacional, mas dessa vez estava disposto a experimentar algo DIFERENTE. Dessa forma, forcei Parada a me acompanhar até o Drake’s, efusivamente recomendado pelo Levino e muito bem falado por vários outros amigos em outras épocas e contextos. Do ponto de vista BURGUER, fracasso: menor, pior e mais caro que os da Hamburgueria. Do ponto de vista CEVA, $u$$e$$o eterno: melhor PINT de GUINNESS que já tomei na vida. Perfumadito e sapeca, cremoso que só, tirado como se fosse EXCALIBUR da PEDRA - e por R$ 12, na promoção. Já o famoso SORVETE DE GUINNESS, preparado com a stout mais famosa do mundo itself é apenas mediano: tem um sabor discreto de AMÊNDOA até interessante, mas vem acompanhado por um excesso de raspas de chocolate amargo e uma FAROFA CRESPA açucarada que meio que CAGA tudo. Frase da noite: “Se eu não sei, eu pergunto.”

BAD TRIP DO DIA: Por conta de uma combinação de fatores acabei não conseguindo ir nem na peça em que o Brodt tá atuando no Teatro Coletivo nem ido na ChaChaCha, a festa de reggaeton, cumbia e outros BARUQUES que a Ale tá fazendo em São Paulo há alguns meses. Dessa vez tinha um tal de Mc Papo como convidado - até onde entendi, o cara responsável pelo hit PIRI-PI-PIRI-PI-PIRI-PIRI-PIRIGUETE. Eu tava bem pilhado de ir pra ver qual é, mas no fim não teve como: depois de uma tarde de trabalho intenso e imprevistos variados, o BURGUER com Guinness me aniquilou totalmente e eu só consegui mesmo ir pra casa, BLAZE UP THE CHALWA e cair durinho no sonex até o famoso TOMORROW.

QUARTA . 22/07/09

BURGUER’S REVENGE: Primeira coisa que falei pro Parada quando acordei, perto da uma da tarde: não quero nem saber, vamos almoçar na Hamburgueria. Ele concordou efusivamente. Também não era assim UM LIXO o BURGUER do Drake’s, mas tinha rolado aquela constatação triste e incômoda de que ele era MUITO INFERIOR ao preparado na cozinha de Jun Sakamoto. Era necessário tomar alguma providência. Dois SUPER BURGUER (um com cheddar, outro com gorgonzola, cada um com 350 gramas de carne) e um MILK SHAKE DE CHOCOLATE depois, compreendíamos mais uma vez o universo. Impressionante como num mundo regido pela transitoriedade a tradição e a CONSTÂNCIA tenham essa capacidade enorme de nos fazer felizes.

ÓCIO RECREATIVO: Depois de comer feito OTIMISTAS, fomos até um supermercado qualquer em busca de um ESPELHO. Parada queria usá-lo para COMPOR um esquema de luz pruma foto de BURGUER que ia tirar na própria Hamburgueria no dia seguinte. Enquanto isso, eu buscava pilhas alcalinas para a minha câmera. Lembro que foi sofrido subir as escadas para o BAZAR, onde o SAMMY UEDA, aquele japa meio AFRESCALHADO do Big Brother, pagava de gatão em meio a cadeiras de praia, chuveiros elétricos e George Foreman’s Grill (no plural, seja lá qual for). De volta à casa, não fizemos praticamente mais NADA. No fim da tarde acompanhei a derrota do TRICOLOR pro AVAÍ via minuto-a-minuto do Globoesporte.com e em seguida convidei todo mundo a encher a cara às 21h na Mercearia.

MERCEARIA SÃO PEDRO: Sempre que vou a São Paulo, seja por um ou por dez dias, faço questão de dar uma passadinha na Merça. Muito existi por lá nas ZATs que construímos todos, TÁCITA E CONCOMITANTEMENTE, ao longo dessa última década. Sei que a Merça é um bom lugar porque até a minha prima METALEIRA KICKBOXER que não curte o PICO vai lá sempre que eu chamo. Sei também que é um bom lugar porque é o único que anima o Hermano a dar uma passadinha praquele SALVE esperto - mesmo que por demais EFÊMERO. Quando o Kieran, um camarada holandês que conheci em 2006 no Rio, apareceu no horizonte, senti que a noite ia ser longa. Levino falava sobre o pistoleiro fronteiriço que havia entrevistado no Paraguai há algumas semanas. Da mesa do lado, com as mãos rabiscadas por números e palavras escritas com um PINCEL ATÔMICO, Otto tentava interagir perguntando se eu era holandês. Eu dizia que não e ele respondia: “Eu também sou. Maurício de Nassau. Eu também sou”. No fim minha conta deu R$ 67, o Marquinhos me cobrou só R$ 60 e ainda lançou uma Smoking Black de brinde. Maior lugar. Volto sempre.



BAD TRIP DO DIA: Foi bem calculada a noite mais forte. Sem o arrego da cama do Levino - que essa noite exerceria sua TITULARIDADE do quarto - eu precisava me contentar com o COLCHÃOZITO SIMPATIA no quarto do Parada. Preocupado com a foto que faria no dia seguinte, ele foi se deitar pouco antes das três horas. Eu segui, madrugada adentro, cachimbando FORMIGA até quase o PISPIAR da manhã enquanto interagia comigo mesmo e com o COSMOS, deveras brincalhão àquelas alturas. Capotei lindamente por volta das seis. Ali pelas NOVE o Parada já saltava pra vida, oferecendo a cama como alternativa mais CONFORTABILÍSSIMA. Melhor que o colchão. Pior que BURGUER. But that’s ok, I think I can live with that.

QUINTA . 23/07/09

RESSACA STATUS: Na primeira vez que acordei, ali pelas NOVE DA MADRUGADA, senti o grave frio dos medos e uma tontura da porra. Depois disso, toda vez que me acordava me sentia menos prejudicado pelas toxinas maléficas liberadas pelo organismo durante a SÍNTESE do álcool, e eventualmente acordei perto da uma menos FUÉM que MEIA-BOMBA, mas certamente mais CAGADO que FULL THROTTLE. De qualquer forma, dessa ressaca pode-se dizer que foi bem BRANDA. Graças ao bom Deus, ao bom Jah e (principalmente) ao bom SENSO.

SEGUNDO TRATAMENTO: Soube assim que acordei. A primeira versão do roteiro que mandei para a Cápsula foi recebida com grande entusiasmo, mas, mesmo assim, eu teria de dedicar a tarde de quinta-feira para LAPIDAR o carvãozito na pressão até extrair dali um VISTROSO e belíssimo DIAMANTE. Foi o que fiz: choveu, eu não almocei e passei a tarde inteira em cima do roteiro, relendo e reescrevendo, tomando água e mascando pão. Parada passou a tarde fotografando BURGUER pruma matéria pra Vida Simples e comendo mais SUPER BURGUER; eu fiquei sozinho, em casa, debruçado sobre o MICRO, apanhando da dinâmica da Apple, a TV sintonizada no Warner Channel o tempo todo, emanando inclemente aquele filmezito classe com o Anthony Hopkins, o Brad Pitt e a Claire Forlani - MEET JOE BLACK. Fui terminar já era NOITE, uns vinte minutos antes do Parada chegar em casa completamente em chamas tendo que descarregar as fotos e trocar idéia com diagramadores, editores e outros ORES menos conhecidos. Perfeição SUÍÇA no timing.



SANDUÍCHE DE PERNIL: Estava prestes a mastigar algum QUITUTE advindo de uma PADOCA qualquer antes de meter o pé pro próximo destino quando Levino chegou em casa louco pra estofar o PANDULHO de sanduíche de pernil (sem molho) na Mercearia. Resolvemos acompanhá-lo. Chamado de RENATÃO por uma conhecida da academia que ACABARA de se AVEXAR por haver sido flagrada FUMANDO e BEBENDO, Parada liquefazia seu carisma cumprimentando os garçons pelo nome e descolando as melhores barbadas do lugar. Levino me convencia a experimentar o sanduíche de pernil (o meu eu quis com molho). Bom pra caralho, de fato. LAMBREQUEI de pimenta pra dar um BLIM e o troço ASCENDEU que foi um COMETA. E pelo preço tá valendo. REPEDIREI mais vezes.

TERCEIRO ENDEREÇO: Caso me mostrassem apenas uma foto da FACHADA eu não saberia reconhecer o prédio no Higienópolis onde fui encontrar o Joõo, a Carla e a Dorinha - a filhota que há pouco mais de um TRIMESTRE faz do feliz casal um casal AINDA mais feliz. Do apartamento, contudo, dificilmente vou esquecer. Possui seguramente a MAIOR sala que já me acolheu na vida e também uma das maiores MESAS DE CENTRO de todos os tempos - que ajudei a manobrar pelas curiosamente estreitas portas em direção à cozinha, onde acabou finalmente funcionando como MESA DE CANTO. Considerei um bom exercício: se não ajudou a queimar as calorias do BURGUER ou da cervejada na Merça, pelo menos deu uma METABOLIZADA no sanduba de pernil que fervilhava APIMENTOSO no estômago.



ARREDORES: Não deu tempo de ver muita coisa - partimos direto para uma PADOCA 24 horas localizada há pouco menos de meia quadra da portaria do prédio, onde cometi o primeiro erro da noite: aceitei dividir meia garrafa de vinho com o Joõo. Enquanto a Carla usufruiu do buffet de sopas e a Dorinha embelezou a existência com placidez, plasticidade e presença, os VARÕES quiseram uma pizza. Meia toscana (com lingüiça, para o carnívoro), meia marguerita (sem carne, para o vegetariano). Eles me perguntaram se eu estava vegetariano, eu ri. Falamos sobre a Ilha de Páscoa, Amsterdam e Buenos Aires. Falamos sobre a Pecha Kucha que eu ajudaria a apresentar no dia seguinte na nova sede da Box, na Augusta. Cometi o segundo erro: mesmo tendo pulado uma refeição - o almoço - julguei estar suficientemente bem alimentado pelo sanduíche de pernil e EVITEI comer muito. Uma fatia e meia, duas se muito.



TABACO É PRA XAMÃ: De volta à casa, a Carla vai dar de mamar pra Dorinha e o Joõo me convida pra degustar um charuto. Dentro da caixa com um provável umidificador acoplado (pelo menos tinha um visorzinho estileira dedicado àlguma tecnologia alienígena ao meu conhecimento) víamos charutos baianos, dominicanos e - lógico - CUBANOS de diversas cores, tamanhos e cheiros. Depois de alguma confabulação acabamos escolhendo baforar um Hoyo de Monterrey no bom e velho estilo

BANQUEIRO: um cigarrão per capta. Sentamos na sacada. Performamos o pequeno ritual de perfurar e acender o charuto enquanto Joõo dissertava sobre técnicas, curiosidades e pormenores da cultura CHARUTÍSTICA. Em algum momento de nossas divulgações existenciais, sócio-culturais e filosóficas, ele me INSTRUÍU sobre a importância mágica que diversas culturas indígenas conferem ao TABACO. Não é qualquer PAJÉ que dá-lhe uns TAPINHAS, e mesmo quando o fazem, os grandes CABEÇAS não costumam tragá-lo: só PITAM. É assim que se deve fazer com o charuto, ensina.

BAD TRIP DO DIA: Em geral, não curto muito fumar tabaco. O industrializado é simplesmente horripilante - e o que se pode chamar de NATURAL ou ORGÂNICO não fica muito atrás. Todos os produtos de tabaco - rapé incluso -, quando mal administrados, me causam uma ADMOESTAÇÃO bastante incômoda da ALMA. Porém, quando consumidos com moderação e sabedoria costumam me emprestar um tipo de amortecimento relaxante (embora tenso), eventualmente desejável. Sobre o charuto, sei que não se deve tragar jamais sua fumaça. Durante a primeira hora, hora e vinte, tenho certeza de que manipulei-a com muita destreza. Ia sentindo novos sabores e novos perfumes à medida que as folhas de fumo se vaporizavam. Lambia a resina dos lábios. Por vezes a sentia adocicada; outras, amargosa. Pouco a pouco, a nicotina encontrou um caminho mais discreto - mas também mais certeiro - para o meu Sistema Nervoso Central. Quando me dei conta, estava COMPLETAMENTE TRANSTORNADO.



CHAPADO DE NICOTINA: Foi como se minha PELE se convertesse em um mar CRESPO e pastoso. Ondinhas, às milhares, percorriam meu corpo de cima a baixo. Eu sentia o sangue espirrando forte nas veias do rosto e sentia o frio do suor que seguia, como se houvesse um RELÂMPAGO estalado dentro de mim. Eu não conseguia parar de pensar nas 300 gerações de TOLTECAS e OLMECAS rindo do meu cagaço, não conseguia parar de pensar que eu deveria ter comido melhor e não conseguia parar de pensar que, da forma que entrou no meu SISTEMA, seria muito mais difícil da nicotina SAIR - ou pelo menos parar de FUNCIONAR. Eu não me sentia bem deitado, eu não me sentia bem sentado, eu não me sentia bem em pé. Caminhei várias vezes pela sala, suando muito e querendo CRER que passava por um processo interno de CURA e PROVAÇÃO (“dor é a sensação que o medo causa quando sai do corpo”). Joõo mexia no computador, volta-e-meia estranhando silenciosamente minha disposição àquela altura da noite. Não muito depois que o ele foi se recolher, o efeito do PITO começou finalmente a se disspar. Escovei os dentes antes de dormir me sentindo aliviado e descansado, apesar de um pouco TRÊMULO.

FACILIDADES IN-HOUSE: Havia, aqui, também, um quarto só pra mim enquanto o Bruno - o filho mais velho da Carla - não voltava de viagem, algo que só deveria acontecer dali a uns três dias. Na sala eu tinha à disposição uma televisão enorme à qual estavam plugados um Playstation 3, um Wii, um receptor de TV a cabo e um aparelho de DVD. O Joõo recomendou um filme e mostrou onde estavam os jogos. Naquela noite, acabei não fazendo nada. Refeito do SACODE do tabaco, lavei o suor do rosto e fui relaxar na cama, assistindo Hellboy. Dormi no meio. A casa tinha pelo menos três computadores - sendo dois laptops pessoais - mas acabei não utilizando nenhum. Se precisasse, entretanto, creio que não teria nenhum grande problema: Joõo me ofereceu seu computador para conferir e-mails e RUN SOME OTHER INTERNET ERRANDS; e a Carla chegou a mencionar que não usaria seu notebook durante a manhã seguinte, deixando-o totalmente à minha disposição.



Em nota totalmente fora de contexto, acabo de lembrar que sempre fico muito intrigado toda vez que passo na frente de uma loja que tem aqui na Protásio Alves chamada A CARLA. Um dia ainda vou entrar lá só pra perguntar pra alguém.

SEXTA . 24/07/09

FACILIDADES 2: Confesso que não tinha me dado conta de que além de passar a NOITE na casa das pessoas passaria também parte importante do dia SEGUINTE - o que em todos os casos e sentidos, nessa experiência, foi EXCEPCIONAL. Assim, só fui descobrir na manhã da sexta o PODER refrescante e relaxante do chuveiro que rola no banheiro das VISITAS no complexo HIGIENOPÓLICO habitado pelo Joõo, pela Carlota, pela Dorinha e pelo Bruno. Ducha muito made of win. Me senti um novo homem.

FIFA SOCCER NO PS3: Preciso admitir que fiquei bem impressionado com os gráficos e o sistema de jogo do FIFA SOCCER 09 pro PS3 - apesar do bug bizarro que fazia com que os jogadores parecessem MARIONETES controlados por cordas. Difícil de explicar. De qualquer maneira, certamente é mais REALISTA que o Winning Eleven, apesar dessa característica lhe custar uns pontos preciosos em JOGABILIDADE. Foda acertar um passe, controlar a bola e os jogadores. Usando um JARGÃO bem gamer, FIFA Soccer é SIMULATION; WE é ARCADE. Independente disso, levei uma TUNDA jogando tanto contra o Joõo como contra o Dudu, que pintou lá com a desculpa de FILAR aquele almocito esperto, mas que na real (eu sei) foi lá só pra me OPRIMIR MUITO no videogame. Divagações e teorias conspiracionais à parte, grande jogo o FIFA 09 pro PS3. Só ainda sinto falta de mais empolgação da torcida, do jogador e até do ESTUFE da rede quando rola um GOLO.

VEGETARIANDO: Quando 3/4 das pessoas sentadas à mesa esperando pelo almoço não comem carne - e 2/4 controlam diretamente as decisões que são tomadas na cozinha, é certo que se pode esperar uma refeição incrivelmente saudável. Eis o que foi esse almoço: melhor REMÉDIO para todos os ataques que promovi no meu corpo até aqui. Salada de alfacito, tomate e agrião (creio) + sopinha cremosa de legumes com queijo parmesão ralado + lasanha de abobrinha e berinjela = DUODENO EM ÊXTASE. Aliás, sempre tive um violento preconceito com SOPA, mas volto dessa viagem mais disposto a aceitar o convite, sobretudo quando a consistência é mais PASTOSA que líquida.

BOX1824: Fiz um pit-stop rápido no Parada só pra dar uma carburadita de leve na elegância e de lá INSURGI [ns] em um metrô na direção do centro. Desci a Augusta procurando a tal CASA B, uma edificação que me pareceu completamente improvável nessa selva de ESPIGÕES que MARGEIA os dois lados da VIA. DERREPENTEMENTE, eis que pinta um PORTAL e eu o ATRAVESSO. As pistas fazem sentido. “Tem uma loja que fica tocando música indiana o dia todo na frente”. Depois, nova loja. Com CONFECÇÃO própria, talvez. Lá no fundo, escondidinha e discreta, jaz uma das mais ASSOBERBANTES concentrações de WIN e $u$$e$$o de que já se teve notícia no universo. Carinho, camaradagem, conforto e aquele calor AINDA MAIS quentinho de quando se é bem quisto acende incontrolável. Falo sobre cerveja com o Dani; caminho na chuva com a Ju; reencontro depois de muito tempo o Gui e a Ana; dou uma força pra Mari Baldi na sua apresentação; encontro e reencontro tanta gente massa em um só lugar que mal dá pra acreditar.



PECHA KUCHA NIGHT: Apoio e financio (em cota tímida) a decisão de comprar cerveja para todos os envolvidos na Pecha Kucha Night que vai rolar muito nas internas, por e para pouco mais de 20 pessoas encerradas em uma salinha morna e macia na sede da Box, protegidos do frio e da chuva nesta noite de sexta. O evento é parte das atividades do bootcamp, uma mistura de ciclo de palestras e oficinas com dinâmica de grupo, tudo em prol da construção de um ambiente de trabalho ainda MELHOR. Essa noite, o resultado iria MUITO além da expectativa. As oito apresentações simplesmente ESMIRILHAM, oscilando entre o cômico e o reflexivo; o despretensioso e o profundo; o místico e o racional. Várias delas poderiam figurar tranqüilamente num evento do circuito oficial da PKN. Oficializarei convites num futuro próximo.

QUARTO ENDEREÇO: Aterrissado numa área delicadamente equilibrada entre o Itaim Bibi e o Jardim Europa, o apartamento do Rony não é só um apartamento: é um ACONTECIMENTO. O cara entra e mesmo antes que possa ser atraído pela GEOGRAFIA mobilística e/ou OBJÉTICA do lugar já sente um cheiro adocicado da MADEIRA CRUA que abraça em um CONTAINER de um porto imaginário a caixa do elevador. Prestamos reverências a Shiva contemplando um SIMULACRO de Aurora Boreal enquanto ouvimos o melhor álbum psicodélico dos últimos anos. A coletânea garimpada recentemente em Paris por Monsieur Rodrigues é tão boa que dá até vontade de voltar a comprar CD. Sentimos a FOME QUÍMICA espremendo o CEREBELO e, de uma gaveta profunda, brotam algumas dúzias de mini-Toblerones ao leite, branco e amargo.



ARREDORES: Conforme descobriria no sábado, não há lugar melhor para se hospedar (ou viver) em São Paulo se o que TE LIGA é a RESTAURÂNCIA. Talvez haja uma centena de BISTRÔS e outros tipos de COMEDOUROS num raio de um quilômetro. Mas como hoje ainda era sexta e eu não sabia disso, PULEMOS este capítulo brevemente pare retomá-lo logo abaixo. Como ponto negativo vale ressaltar, entretanto, a ausência de uma estação do metrô nas proximidades.

FACILIDADES IN-HOUSE: Havia um quarto só para os hóspedes, de frente para a sala da TV e com um enorme e belíssimo banheiro à disposição. Só há um computador na casa - o notebook do Rony - que acabei não usando basicamente por não precisar: me mudaria pra lá na noite de sexta e sairia de lá na manhã de domingo, um período de tempo notoriamente reconhecido pela sua absoluta IRRELEVÂNCIA do ponto de vista PROFISSIONAL (pelo menos na MAIOR parte do tempo, e considerando apenas os ramos de atividade menos CAVERNOSOS).



THE PUB: Logo que cheguei em São Paulo, a Renatinha Simões já me convidou prum traguito somewhat professional. Além de apenas APROVEITAR a vida como geralmente se faz nesse tipo de situação, minha missão nesse caso seria ajudá-la a JULGAR a carta de cervejas e a qualidade dos chopps de alguns dos bares que pretendia avaliar para a VEJA. A pedida dessa noite chuvosa era o The Pub, réplica bastante FIEL de um verdadeiro PÉ SUJO britânico pulsando firme nas proximidades do Studio SP, uma zona aparentemente conhecida na cidade pela alcunha de BAIXO AUGUSTA. Na pauta: pints de Guinness (média, mal tirado se comparado ao do Drake’s), Old Speckled Hen (ok, mas nada de espetacular), Eisenbahn Pale Ale (surpreendendo e se tornando o melhor da noite, na minha opinião) e uma garrafinha de Fuller’s ESB pra arrematar (uma das melhores cervejas que já tomei na vida). Coerente, The Pub mantém em garrafa quase toda linha da Morland, Fuller’s e Guinness que chega ao Brasil - e o barman ainda me garantiu que alguns rótulos da Harviestoun (como a maravilhosa Old Engine Oil) eventualmente também pintam por lá. Responsa.

SALMÃOZITO: Voltei para o apartamento quase às cinco, comi um salmãozito pra rebater o horror etílico e me precipitei nas profundezas do quarto de hóspedes pra só voltar a existir cinco horas mais tarde, já ouvindo Petite chegar do outro lado da porta.

BAD TRIP DO DIA: Pelo que consigo me lembrar, NENHUMA. Se quiser forçar um pouco a barra posso considerar as duas derrotas seguidas no FIFA 09, ou quem sabe o fato de não ter ido à tal da CHAKA - uma festa que a Renatinha me recomendou fortemente - para dançar EVOCANDO os bons EFLÚVIOS dos black grooves em suas mais diversas manifestações até a AMANHECÊNCIA do dia. Mas nah: não seria justo. Esse dia foi IRIE pra DEDÉU. Buena onda, yerba buena, all the crews just big up. O lance é comemorar.

SÁBADO . 25/07/09

PETITE’S LIST: Sempre que Petite viaja pra algum lugar ela leva uma lista de endereços que gostaria de explorar durante sua ESTADIA. Em geral a lista transita por restaurantes, lojas, casas de espetáculo, museus, centros culturais e peculiaridades locais, mas dado o EXÍGUO das horas que passaríamos juntos em Sâo Paulo este fim-de-semana, direcionamos nosso foco para os restaurantes.

ARREDORES 2: Conversando com o Rony descobrimo-nos relativamente perto de pelo menos um par de restaurantes franceses, outro par de italianos e até mesmo uma das duas filiais do Ritz (I dream of Jubileu Burger). Duas indicações do Rony batiam com as anotações da Petite, então pareceu fazer muito sentido deixar o Ritz pruma próxima e descobrir as delícias OU do Le Vin (que eu já conhecia) ou do Due Cuochi (mistério e sedução). Em menos de 15 minutos de caminhada avistamos pelo menos outros 5 estabelecimentos nos quais valeria a pena entregar uns cobres, mas no fim das contas paramos mesmo foi no italianinho simpatia da Manoel Guedes.

DUE CUOCHI: Muito boa escolha, de fato. Apesar de ser um lugar meio cheio do QUI-QUI-QUI, daqueles onde os garçons fazem as vezes de EXTREME SERVIÇAL, aqui o clima não era de PESO e SUBMISSÃO que quase sempre impera nesse tipo de ambiente. Pelo contrário: a equipe visivelmente CURTIA trabalhar ali, todos de bom humor, calorosos e espontâneos, e sem o menor resquício de AFETAÇÃO. Fora isso, o fettuccine com RAGU DE PATO e COGUMELOS FRESCOS que pedimos estava uma delícia - e os R$ 40 que nos cobraram pelo prato era mais do que honesto em um restaurante desse porte, onde o COUVERT custa R$ 11 por cabeça e só se fala italiano na cozinha.



RACIOCÍNIO MÁGICO FTW: Quando comecei a assistir o jogo do tricolor contra o Santo André no fim da tarde, Petite ainda SESTEAVA para recuperar as energias antes do casamento. Foi só ela abrir a porta do quarto e perguntar quanto estava o jogo pro Santo André abrir o placar, forçando o Vitor a engolir um PERU HOMÉRICO pelo meio das canetas. Alguns minutos depois ela decidiu tomar banho e começar a se preparar para a festa: assim que desapareceu banheiro adentro, o Grêmio empatou. Ela recuperou o interesse e voltou a sentar no sofá. O time empacou. O interesse esvaneceu-se. A porta do banheiro se fechou: Souza meteu o golaço da virada. Mas as correlações pararam por aí.



CABARÉ URANUS: O Diego e a Titi resolveram mergulhar fundo na MODERNIDADE LÍQUIDA (alô alô ZYGMUNT) e marcaram sua contração matrimonial num tal de Cabaré Uranus, um inferninho BURLESCO localizado em algum ponto entre a Santa Cecília e a Barra Funda. No caminho desenhado pelo taxista nas adjacências, creio termos SINGRADO a CRACOLÂNDIA. Eu ainda sentia o Mujjol Shikran borbulhando misturado ao Veuve Clicquot no estômago quando chegamos. Não fomos os primeiros três, mas estávamos certamente entre os primeiros dez. A porta logo se abriu. Uma grande pista, meia dúzia de mesas encostadas nos cantos e um imenso palco psicodélico com uma gorda cortina vermelha dava a entender que a noite prometia.



HIGHLIGHTS: Pouco mais de uma centena de convidados; eu conhecia uns 70%. Depois da comovente cerimônia teatral, rolou um SHOW DE CALOUROS. Houve um número de mágica, a reprodução da cena em que Uma Thurman dança com John Travolta em Pulp Fiction, um Sapo barbado de peruca e vestido dublando Susan Boyle (uma das coisas mais HILARIANTES que já aconteceram no mundo), Tainá cantando Don’t cry for me Argentina enquanto tentava se equilibrar sobre uma bola de pilates, stand-up comedy drag + dublagem de Finally, imitação de Amy Winehouse (com destaque para um backing vocal japonês de um metro-e-meio que roubou a cena apenas por existir) e uma apresentação à la MOULIN ROUGE do assim denominado CIRCO DO SOLEIGO. O pai da noiva, cujo SEMBLANTE assemelha-se a um JACK NICHOLSON mais BRUTO, ainda cantou um pouquinho de Tornei-me um ébrio, mas foi isso.



OURIVES FOREVER: Lá pelas tantas, em um momento relativamente pacífico da noite - ainda nem tinha migrado da cerveja pra VODKA, minha camisa seguia dentro das calças e o nó da gravata estava apertado - Gabriel Rosemberg e eu começamos a trocar a idéia mais inacreditável da história. Em certa altura ele comentou algo do tipo: “Fiquei sabendo que tu abriu uma empresa e está muito bem”. Procurei ser modesto (e realista), e neguei com algum SUBTERFÚGIO no estilo de: “Nem tão bem assim, mas não posso reclamar”. Então ele disse algo que, naquele momento, interpretei como se fosse uma METÁFORA: “Tu tá comprando computadores e tirando ouro deles.” Na hora pensei nas linhas de crédito empresarial que a Caixa dá para os clientes corporativos, mas depois me dei conta de que jamais tinha feito uso de nenhuma delas. Eu não comprei nenhum computador. Intrigado, lasquei um “como assim?” e o Gabriel me disse: “Várias pessoas já me disseram que tu tava comprando computadores velhos, desmontando, tirando o OURO dos conectores e revendendo por um preço bem mais alto”. Quando estava prestes a ter um TROÇO, eis que ele dá o golpe fatal e THROW THE DAGGER HOME ao proferir as seguintes sílabas: “É que o meu irmão é OURIVES e eu já tava pensando em botar vocês em contato pra, sei lá, numa dessas fazerem algum tipo de parceria”.



MOMENTO TE CONSIDERO PRA CARALHO: Sempre me pareceu uma ROTUNDA mentira aquele papo do cara que bebeu tanto numa noite que esqueceu totalmente o que tinha feito no dia seguinte - até que aconteceu comigo. Não foi dessa vez. Da mesma forma, também sempre achei ridículo o discurso bebum do “te considero pra caralho” até que - sim - começou a figurar no meu próprio roteiro etílico. Em minha defesa posso dizer que SEMPRE que eu disse pra alguém que o considero pra caralho, o fiz do FUNDO DO MEU CORAÇÃO. Se eu te abraço numa festa todo suado, descabelado, copinho de trago na mão e BAFO DE TIGRE LOUCO emanando enquanto te digo que TE CONSIDERO PRA CARALHO é porque eu GOSTO MESMO DE TI e, muito provavelmente, já te disse isso várias outras vezes, para várias outras pessoas, em outros contextos e momentos. So, I hope you don’t mind.



BAD TRIP DO DIA: Na hora de ir embora, não havia táxis suficientes para os convidados tentando voltar pra casa totalmente transtornados, o que causou alguma confusão e gerou certos constrangimentos - mas nada que não pudesse ser facilmente contornado, como de fato foi. Outra bad trip: embalada pela mistura de champagne e vodka num estômago essencialmente vazio, Petite meio que TRAVOU lá pelas tantas, sentindo-se mal pra caralho até chegarmos em casa. O taxista que nos levou, pra piorar, não sabia o caminho. Eu estava completamente sem voz e, como de costume, não tinha a menor idéia de como chegar lá. Demonstrando FIBRA e ELÃ e comportando-se de forma exemplar e ESTÓICA, Petite finalmente acabou orientando o motorista, e este nos GUIOU corretamente até o nosso destino.



DOMINGO . 26/07/09

RUDE WAKENING: Pouco depois de levar a Petite até um ponto de táxi - a pobrecita mal havia acordado e já pegava um vôo pra chegar em Porto Alegre a tempo do começo do seu plantão no jornal, às 17h - decidi ir ao QG Czarnobai em São Paulo. Assim que voltei pro apartamento, liguei pra Fernanda no intuito de MENDIGAR uma caroninha. Nem precisei: ela mesmo ofereceu o FRETE. Assim, uma hora e pouco mais tarde eu embarcava no BONDE DO METAL: no banco do carona ia o Moysés, guitarrista do Krisiun e namorado da Fernanda, minha prima baixista EXTREMA, fluente em alemão e MESTRE DE MUAY THAY que conduzia o BÓLIDO decorado com DADINHOS DE PELÚCIA ROSA pendurados no retrovisor. QUINTO ENDEREÇO: Depois de vários anos morando numa das partes mais bombadas da Vila Olímpia - e quiçá de toda São Paulo - meus tios se mudaram prum reduto bem mais pacato no Brooklin. Se o apartamento antigo era pequeno, ouvia-se TODO SANTO AVIÃO que pousava e decolava de Congonhas e ainda sofria-se com o congestionamento do trânsito local devido à proximidade da Anhembi-Morumbi e do Via Funchal, este novo é espaçoso, tranqüilo, silencioso e (porque não abusar de um termo tão bonito?) PACATO.

ARREDORES: Não há estações de metrô por perto, mas um ponto de táxi manda os carros em menos de dois minutos quando se chama - uma vantagem em relação aos demais, que tem por costume pedir o telefone dos clientes para ligar de volta dali a dez minutos dizendo que o táxi ainda vai demorar outros dez.

CHURRASCO MORTAL: De avental e calibrando uma BREJINHA esperta, Tio Fernando resmungou quando eu disse que não tinha levado os QUATRO QUILOS DE FEIJÃO que meu pai pretendia lhe mandar. Na grelha assavam dois pedaços de picanha lustrosa (servida em seguida sangrando abundâncias), costelinhas de porco temperadas, salsichões variados e um generoso NACO do famoso frango com mel, shoyu e mostarda (acho) que só ele mesmo sabe preparar (dica: já tentei: ficou uma merda).



KRISIUN: No fim da tarde, depois de fazer a digestão vendo o CURÍNTCHA acocar pro Palmeiras, meu primo foi levar a namorada em casa. Quando a Fernanda ia fazer o mesmo pelo Moysés, eis que o nobre guitarrista me convidou pra conhecer o BUNKER que ele e os irmão dividem, quase em Osasco. Ao abrir a porta já senti o PESO DO METAL COLORADO: vestindo uma camiseta do CO-IRMÃO ESCARLATE, o Alex só RUGIU ao ser apresentado, como se fosse capaz de FAREJAR meu GREMISMO eterno. Na parede da sala, um CAPETÃO desenhado em preto e branco me lançava maldições. Sentei no sofá e comecei a observar. Uma estátua do LAÇADOR, fardado com as cores do Internacional. Flâmulas, distintivos e bandeirolas por toda a parte. Um SACI. Eu estava no COVIL DO INIMIGO. Mesmo assim, cerca de vinte minutos - e quatro a cinco PUFFS - depois éramos todos amigos, arriando-nos uns nos outros na melhor tradição gaudéria enquanto descorríamos sobre futebol, cerveja e good good sensi. Por sinal, dia 9 de agosto - o popular domingo que vem - o Krisiun faz show em Porto Alegre, no Opinião. Irei.



FACILIDADES IN-HOUSE: Caso eu precisasse, poderia usar qualquer um dos três computadores da casa para trabalhar, conferir e-mails, me comunicar - mas não foi preciso. De volta da session no CAFOFO DO METAL comi um sanduíche com presunto e queijo, belisquei algumas miudezas e me acomodei na sala com os primos pra assistir o finalzinho de Surf’s Up - aquele filme de pingüins que surfam. Way nice. Na seqüência rolou um Resident Evil 3, mas eu simplesmente não consegui acompanhar a história. Sério, esse filme não faz o MENOR sentido. Fora isso, descobri que na grade de canais da TVA existe uma emissora voltada para os esportes radicais chamada WOOHOO. Pano rápido.

BAD TRIP DO DIA: Visitas e vagabundos que procurem abrigo no QG Czarnobai no Brooklin deparam-se, basicamente, frente a duas opções: cantinho da sala atrás do sofá, em um colchão de ar montado em caráter emergencial; OU quarto do Cláudio ou da Fernanda - caso um dos dois tenha ido viajar ou dormir na casa de outrem. O problema: meus dois primos dormiriam em casa esta noite e, pra piorar, segunda-feira é o DIA DA FAXINA, o que significa que às 7h30 seria desalojado do meu cantinho. No fim, a bad trip acabou sendo totalmente revertida: havia um colchãozito modesto que podia ser instalado no chão do quarto do Cláudio - que ainda por cima levantaria às 7h de qualquer forma e me cederia o quarto com o maior prazer.

SEGUNDA . 27/07/09

MAIOR QUE LEIBOVITZ: Voltei ao Parada no começo da tarde para que ele tirasse um meu retrato. O momento não podia ser mais propício: alguns instantes atrás ele havia recuperado, INTACTA, uma mochila esquecida atrás de uma cadeira no Café Uranus por conta dos altíssimos níveis de BOMBÂNCIA então atingidos na festa do casamento. Dentro, um KIT COMPLETO DE FOTOGRAFIA. Câmeras, lentes, luzes, extensores, QUELQUECHOSES. Valor estimado (por baixo) em 15 mil reais. A coisa ganhava contornos ainda mais dramáticos visto que na terça-feira Parada deveria retratar JUN SAKAMOTO em plena ação na cozinha da Hamburgueria Nacional. A sorte sempre está do lado dos bons. Ainda não vi os instantâneos dessa sessão cabeluda do inverno de 2009, mas tenho certeza de que estão FENOMENAIS. Por enquanto, deixo vocês com isto:



SEXTO ENDEREÇO: Pequeno fracasso pessoal, optei por pagar R$ por uma corrida de táxi do que caminhar até o metrô ou o ponto de ônibus e, depois, até o apê do Rafa na Cônego, ali quase na esquinita da Teodoro. Honrando o sempre espantoso senso de direção de um POMBO SEM ASA, desci uns quatrocentos metros na direção ERRADA da rua - mas pelo menos dessa vez foi uma pernada PLANA, sem subidas nem descidas muito acentuadas.



TRU PLAYA STYLE: No fundo da sala espaçosa - porém ATULHADA de informação - encontro o Ivan (e sua Nívea) e conheço o lendário BABU. Me ABANCO no PUFE e, tomando COCA e CHÁ-MATE, discorro sobre muita coisa diferente com os presentes. Ainda há um casal nice and easy cujos nomes agora me escapam, mas por lá também estavam para a primeira parte da noite. Mais conhecido como Kingston, no Recanto do Rafa o Rafa sempre está em casa, e a rotatividade é frenética. Babu e casal nice dão essa banda e, em seguida, em seu lugar, aparecem Danilo e Babee para manter o CONVERSÊ desenfreado em the highest ranks, at full efect.



SONZEIRA CABULOSA: Mal chegou no pedaço e o Danilo já largou o Love, dos Beatles, na mão do Rafa. Em VINIL. A bolacha foi IMEDIATAMENTE pra vitrola e encharcou a primeira boa hora de PARLAPATONISMO e FANFARRONICE com muita propriedade e significação. Na seqüência, só petardo. Funky breaks pegados, altos grooves CEREBRAIS obscuros e um punhado de raridades nacionais - como o disco de FUNK BLACK POWER NERVOSO e outras MUQUETAS de pistinha do Tim Maia. So nice you wanna play it twice.

ARREDORES: Perto do metrô, dos ônibus e dos táxis, e com Pinheiros aos seus pés - Kingston fica muito bem localizado. A maioria dos serviços básicos pode ser alcançado a pé, e a boa notícia é que aqui os preços são bem mais convidativos do que nas vizinhanças mais nobres.



FACILIDADES IN-HOUSE: No último dia de vagabundagem, o primeiro sofá me é oferecido como LEITO. Não qualquer sofá, é bom que se diga: além de significativamente maior do que várias camas nas quais já me deitei, ainda tinha uma porção RETRÁTIL, o que permitia um aumento de mais de 50% na sua área total. A única desvantagem é que eu fico no MEIO DA SALA. Quer dizer, imagino que incomode mais os MORADORES do que o VISITANTE. Pra mim, qualquer lugar tá bom. Pra eles, tem um homem ruivo de um metro e noventa e 85 quilos dormindo de cueca no sofá da sala. Impossível não ser PERTURBADOR em algum aspecto.

O FATOR PIZZA: Da mesma forma que o churrasco mais caro de São Paulo é ainda inferior ao churrasco mais barato de Porto Alegre, a pior pizza da cidade cinza ESMIRILHA CATASTROFICAMENTE a vida de qualquer disco de massa com cobertura comercializado às margens do Guaíba. Assim sendo, ORDENAMOS de algum lugar sem muita frescura dois dos exemplares mais básicos: muzzarella e calabresa. Muito embora seja obrigado a admitir que não foi a MELHOR pizza que já comi na vida, ainda assim dá de RELHO em muita CASTELHANA metida a besta aqui do PORTINHO. SALVE: Pra rapaziada que agilizou o corre em todas as suas frentes. Maximum Big Up! Yush!

TERÇA . 28/07/09

HOMESICKING: Engraçado como toda vez que eu REALMENTE preciso me acordar num horário determinado eu acordo SOZINHO, sempre a tempo de desligar o despertador. Hoje não foi diferente - e nenhum dos outros dias dessa semana, independente da quantidade ou qualidade das substâncias ingeridas na noite anterior. A essa altura do campeonato, começava a experimentar saudades de casa. Arrumei o sofá, usei o banheiro e depois estudei durante alguns minutos uma estratégia para sair de casa sem precisar acordar a Nívea (que provavelmente dormia em algum dos quartos que eu sequer sabia onde eram) e nem deixá-la trancada em casa.

ESSA FOI FODA: Tive que deixar a porta do apartamento aberta por alguns segundos, descer até a porta do prédio, destrancá-la, subir até o apartamento, encaixar a chave na fechadura e encostar a porta para trancá-la por fora. Se quando eu voltasse uma pessoa - ou o VENTO - tivesse fechado a porta do prédio, eu ficaria trancado até que alguém portando uma chave apropriada me cruzasse o caminho. Eu não queria incomodar ninguém. Sabe como é. No fim deu tudo certo: a porta ainda estava aberta. Ganhei a rua e, logo depois, um táxi até Congonhas. De lá, um ônibus até Guarulhos.

ARMADILHA PRA GRINGO: Comer em aeroporto, via de regra, é uma má idéia. Tudo é sempre muito ruim, muito caro e pouco variado. Ao pensar vinte segundos sobre o assunto me veio à cabeça que talvez a comida de aeroporto só perca em NASTYNESS pra comida de HOSPITAL - de penitenciária não conta, é HORS-CONCOURS. Único lugar no Brasil onde uma fatia de pizza, quatro folhas de alface crespa com molho de queijo parmesão, dois bread-sticks e um copo de refrigerante custam R$ 30 reais. Prum YANKEE sai por 15 conto. Um europeu médio paga 10; os bretões nem isso. Ou seja, pra eles é negócio. Pra nós, só mais um ATOL.

PISCA: Um tempão atrás, quando a Fernanda começou a namorar o Moysés, eu já tava ligado na relação do Krisiun com o Pisca. Eu conheci esse camarada num contexto MUITO OLD SCHOOL. Ambos tínhamos, sei lá, uns 12 pra 13 anos de idade. Ele ainda era conhecido como DUDA back then. Morávamos há umas duas ruas de distância um do outro. Freqüentamos durante uns bons três anos o mesmo colégio. Ele tinha vários amigos na minha rua - e em várias outras ruas das redondezas. Eu não tinha. Nunca tive. Nunca fomos muito próximos, essa é que é a real. Mas acabamos nos encontrando no domingo, na CAVERNA COLORADA de Ijuí, e depois novamente no aeroporto, a espera do mesmo vôo, que nos levaria de volta pra casa. Hoje em dia o Pisca produz os shows do Krisiun e do Matanza (a/c Xerxenesky), e é daí que vem esse RELINK nos nossos trajetos.

BARATISMO SEM LIMITES: Foi massa rever o Pisca quase 20 anos depois por vários motivos, mas um deles certamente foi descobrir que existe uma maneira ainda MAIS barata de transitar entre o Aeroporto de Guarulhos e a cidade de São Paulo. Aparentemente há uma VAN que parte, todos os dias, de quinze em quinze minutos, do Aeroporto de Guarulhos em direção ao terminal Tatuapé do metrô - e também na direção contrária. Detalhe: custa R$ 3,26. Dez vezes menos que o trajeto mais barato do Airport Bus Service. Numa próxima, testarei.

CONFORTO x CAMARADAGEM: Como havia feito meu check-in antes de encontrar o Pisca, pedi para o funcionário da Webjet me marcar um espaço bem camarada. Não que eu tivesse sido OPRIMIDO na vida, nada disso. Apenas queria elevar a experiência TO THE FULLEST. Na simpatia, eis que o funcionário figuraça me colocou no assendo 1L, a primeira janela da primeira fila. Quando a aeromoça (very hot, por sinal) cantou o encerramento do embarque, não havia PERSONE sentado ao meu lado. Eu viajaria MUITO BAIXADO. Aí o Pisca veio me dar um toque que ele e o Arthur - um camarada que trabalha com a Fresno e que tínhamos descoberto no mesmo vôo - estavam sentados no mesmo lugar e que se eu quisesse chegar lá tinha espaço. Acabei optando pela CAMARADERY no lugar do CONFORTO; e no fim JACK NICHOLSON, o pai da noiva himself, que também voltava conosco, acabou ocupando o e desfrutando do lugar outrora reservado pra mim.

WEBHOT: Apesar da turbulência sacolejante que aplicou um BATICUM furioso pra cima da aeronave durante 80% do vôo, curti bastante os serviços da Webjet. Bom sanduíche, ótima MINI BOMBA DE CHOCOLATE. Aeromoças bem humoradas e muito, mas MUITO gatas mesmo. Sério, alguém caprichou MUITO na seleção. Impressionante.

BRANCO vs. VERMELHO: Combinei com Pisca de RACHARMOS um táxi quando chegássemos no aeroporto. Ele insistia que fôssemos para a plataforma de embarque e pegássemos um táxi comum (aqui eles são VERMELHOS), enquanto eu dizia que ambos tinham o mesmo preço e valor de bandeirada. Muito embora parecesse aceitar o destino resignado, Pisca não se deu por convencido e abordou o PRIMEIRO vermelhinho que viu assim que deixamos o prédio em direção à rua. Um dos taxistas do aeroporto, vendo a cena, ficou PUTAÇO e partiu pra cima da gente, espantando o vermelhinho e insistindo que o preço era o mesmo. Pisca alegou que tinha combinado de ir até a Teresópolis com o outro taxista sem bandeirada, pelo preço fixo 20 reais. O motorista do branquinho armou uma BRUTA cara de CU e resmungou PRA CARALHO - na boa, durante mais de metade do trajeto - mas acabou aceitando. A título de comparação: uma corrida entre o meu prédio no Bom Fim e a casa dos meus pais dá entre 16 e 19 reais. Pro aeroporto, de 13 a 15. Pisca > Mundo. EM NOTAS RELACIONADAS: Alguém sabe se o valor da bandeirada e quilômetro rodado é realmente o mesmo nos táxis brancos e vermelhos de Porto Alegre?

(…)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

SLOW FOOD: Todas as pessoas com quem almocei ou jantei em São Paulo observaram uma mesma particularidade nos meus modos degustativos: estou comendo DEVAGAR PRA CARALHO. Quer dizer, todo mundo já tinha terminado o seu (prato de arroz, feijão, salada e carne; burguer; três fatias de pizza) e eu ainda estava beliscando a primeira metade do meu. Única exceção foi o dia do churrasco, quando a observação foi outra: estou comendo POUCO. Frente a esta realidade me restam duas alternativas: a) acreditar que estou mesmo comendo MENOS e MAIS DEVAGAR, visto que esses dois elementos são MUITO favoráveis para uma boa digestão e saúde; b) deduzir que sigo comendo na mesma velocidade, mas as pessoas de lá, para entrar no ritmo da cidade, acabam comendo muito mais rápido que o normal.

RAUL CORTÊS FOREVER: Uma coisa precisa ser dita - hoje em dia é muito melhor viver em São Paulo do que já foi cinco ou dez anos atrás. Além de uma sensação de segurança MUITO grande, o trânsito flui muito melhor do que o de Porto Alegre, por exemplo. Embora existam bem mais carros, os motoristas são muito mais CORTESES e estão cientes de que dar o PISCA quando se vai trocar de PISTA, não trancar cruzamento e dar passagem quando um compadre pede é MUITO mais inteligente do que fazer o contrário.

BOM PRACISMO SEM FIM: Ainda dentro do tópico “trânsito” vale ressaltar uma prática surpreendente dos taxistas da cidade: eles arredondam a conta PRA BAIXO. Exemplo: ao voltar do casamento na madrugada de sábado para domingo fomos confrontados com uma conta de 36 reais e uns quebrados. Dei duas notas de 20 ao taxista. Ele prontamente devolveu-me uma de DEZ. Esse foi, naturalmente, o exemplo mais VULTOSO foi esse, mas colecionei diversos outros ao longo dos dias. Os centavos sempre desapareciam. Uma corrida de 11 com 90 virava fácil uma corrida de 10 se tu só entregasse essa nota pro CHOFER. Achei genial.

O QUE SOBROU: Uma semana de roupa é exatamente o que cabe na minha mochila. Dito isso, usei todas as meias e cuecas (menos o par de emergência), os dois blusões, o casaco leve (um dia) e o pesado (todos os outros). Gastei o restinho de shampoo que levei. Sobrar mesmo sobrou a calça de emergência e duas camisetas de manga curta. O resto eu usei tudo.

O QUE FEZ FALTA: Em todos os lugares em que me hospedei me foi oferecido um belo kit com travesseiros, lençol e toalhas, além de acesso a todas as facilidades higiênicas. Mesmo que os dois primeiros itens não estivessem disponíveis, sua ausência não me ASSOMBRARIA: já uma toalha boa e aquela pastinha de dente caprichada fazem toda a diferença. Nenhuma reclamação sobre isso, entretanto: todas as toalhas nas quais me sequei eram excelentes e os DENTIFRÍCIOS e saponáceos de primeira linha. Ainda assim, talvez fosse mais simpático possuir uma toalha própria. Sei lá. Frescura minha. Outra coisa que fez falta: meu protetor de acrílico anti-bruxismo, feito sob medida no começo do ano pela bagatela de 600 reais. Graças a sua ausência, consegui RE-QUEBRAR meu dente no MESMÍSSIMO lugar, e agora vou morrer em mais uns 200 pra RE-CONSERTAR o bicho. Nada fácil.



SÃO PAULO É NOVA SÃO LUÍS: Apesar da reportagem-denúncia da TPM e dos depoimentos de vários amigos de círculos totalmente diferentes apontarem a COCAÍNA como grande musa da noite paulistana, graças ao bom Jah não tive nenhum contato com nenhum camarada TRINCADO - pelo menos não que eu SAIBA. São Paulo em julho de 2009, pra mim, foi stricktly ganja vibe. Entre 2005 e 2006, quando muito transitei na ponte aérea, sempre acabava tostando MUITO mais caroços no Rio do que em Sampa, até porque o MATO PAULISTA costumava ser mais NÓIA que o carioca. Dessa vez foi BEM diferente. Muito bagulho BOM rolando em São Paulo, bah. Deusulivre. Variedade e qualidade inimagináveis. Torrãozinhos verde-claros e marrom-escuros, oscilando do 1 por 1 ao 3 por 1 na grama. Na fagulha já é aquele gostinho doce de planta fresca, aquele cheirinho ARISCO de pimenta e mel. A parada é outro nível. Experimentei pelo menos umas seis qualidades diferentes - quatro delas numa mesma noite, num CANABISMO GOURMET. É uma vibe mais VERÃO, mais HEART WARMING, mais MELLOW do que as daqui. Sentirei saudades.

CAIXAS AUTOMÁTICOS EM AEROPORTOS: EPIC FAIL total e irrestrito, do começo ao fim. Em Porto Alegre, as duas máquinas localizadas dentro da agência da Caixa Econômica Federal no Salgado Filho estavam fora do ar. Viajei tranqüilo sabendo que, em Guarulhos, há profusão de caixas automáticos no saguão. Fui até lá: nenhum com a minha bandeira. O mesmo aconteceu em Congonhas: bancos 24 horas multi-marcas hoje atendem a apenas um DEUS - Santander, HSBC, Bradesco. Por sorte dá pra acessar a conta da Caixa a partir de qualquer AGÊNCIA LOTÉRICA, e por sorte TODOS aeroportos por onde passei possuiam essa facilidade. A parte ruim é que demora HORRORES, já que é necessário dividir a fila com a rapaziada que paga conta e faz sua tradicional fezinha. Outra desvantagem: lotérica, ao contrário de caixa 24 horas, FECHA.

SINCRONICIDADES: Experimentei vários episódios de SINCRONIA nessa semana que passei em São Paulo. Pelo menos três pessoas em contextos totalmente diferentes me falaram sobre A ESTÉTICA DO FRIO, do Vitor Ramil. A Carla chegou a apresentar um paralelo curioso entre o Rio Grande do Sul e a Islândia na Pecha Kucha interna da Box. Também duas pessoas muito distantes entre si mencionaram reverência a JÚPITER MAÇÃ, comentando a boa fase do cantor - mais magro e menos drogado, fazendo shows históricos por onde passa. Notei ainda que, independente do PODER DE FOGO, 90% dos lares que visitei já conta com uma daquelas tevezonas widescreen que parecem um iPhone deitado na sala de estar. E pra finalizar, falei mais vezes sobre PIC-NIC essa semana que passou do que no resto todo da minha vida.

CONCLUSÕES: A principal de todas: se quisesse, poderia ter ficado mais tempo em todo os lugares em que fiquei. Talvez causasse um pouco mais de transtorno no Tio Fernando ou no apê do Rafa, mas emendaria uma semana tranqüilo no Rony, no João e na Carla e no Parada. Possivelmente poderia fazer o mesmo na maison Godoy-Müller. Outra coisa que me pareceu muito clara (apesar de ASSAZ óbvia): muito embora o MUITO MASSA de São Paulo seja mais massa que o de Porto Alegre, o MUITO TOSCO de São Paulo é mais tosco também. Quer dizer, gastando bem se vive MUITO BEM na cidade cinza, mas quando se vai pro lado mais trash é FARRAPOS NA CINQÜENTÉSIMA POTÊNCIA. É muita sujeira, perigo, precariedade e feiúra onde é sujo, perigoso precário e feio. Nosso TOP é bem menos TOP, mas nosso TOSCO também o é. Dito isso, só vou pra Sâo Paulo se for pra viver bem.

CURIOSIDADE ALEATÓRIA: A memória musical dos anos 80 está muito viva nos CD players dos taxistas da cidade. Billy Idol, Dire Straits e Fine Young Canibals marcam presença forte. DUAS FRASES MEMORÁVEIS: “They Take More Than They Deserve”, grafite contemporâneo cuja fonte remete aos tipos cartunescos utilizados nas histórias em quadrinhos; “Somos Terríveis”, pixo old school desbotado marcado numa estrutura metálica enferrujada às margens do tietê, no caminho pra Guarulhos.

(…)

GRAND FINALE: Vinte horas de escrita e edição de imagens mais tarde, eis aí o MAIOR POST DE TODOS OS TEMPOS. Claro que os mais espertos já perceberam que ele arruina COMPLETAMENTE a minha Teoria do Churrasco™, ou seja: melhor chamar de EXCEÇÃO que CONFIRMA a REGRA. Independente disso, prevejo que esse relato será menos lido que a edição menos lida do COL. LOL.

(…)

Mas tanto faz: vivê-lo para poder escrevê-lo (e escrevê-lo) já foi diversão suficiente.

(…)

So

I hope you don’t mind:

Let me clear my throat.

FÃ-RÃ-RÃ-RÃ-RÃ-RÃ-RÃ-RÃ

(um tom abaixo)

FÃ-RÃ-RÃ-RÃ-RÃ-RÃ-RÃ-RÃ


índice



1999-2016