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O que há em um nome?
Publicado originalmente na Revista Gloss, em fevereiro de 2010
Assuntinho ESPINHOSO que volta-e-meia me provoca ESPÉCIE é a fraqueza do ELO que conecta uma palavra qualquer ao objeto, situação ou sentimento que ela se arrisca a representar. Não é um troço assim tão grave nas de uso único (como SABUGO) mas pode-se tornar uma QUERELA quando nos deparamos com algo como CADEIRA, que designa não apenas um ASSENTO com encosto, mas também uma AULA específica na faculdade e as ANCAS de uma mulher.
A coisa fica ainda mais complexa quando pensamos nos nomes próprios, esses pequenos FARDOS (ou grandes presentes) que somos obrigados a carregar por toda a vida. É a Shakespeare que se atribui a famosa frase o que há em um nome?, e muitos séculos depois faço coro ao BARDO britânico para perguntar: o que há na palavra André que me define? Ou no complemento Felipe? Como é que essa seqüência arbitrária de letras me representa?
A resposta: não representa.
Sobretudo porque ao longo da vida me acostumei a carregar o peso dos APELIDOS.
Eu poderia escrever um livro sobre os BASTIDORES de cada apelido que me foi conferido ao longo da HISTÓRIA, de tantos que tive. Em casa evoluí de Dedé a Kidids; nas ruas fui Ratão Branco e Morto (não perguntem). Mas foi nos estabelecimentos de ENSINO que realmente se ESMERARAM em me rebatizar inúmeras vezes – e das formas mais absurdas.
O mais notável de todos é justamente esse Cardoso, que ganhei na faculdade após passar seis meses inteiros me referindo assim a um tal Camargo – professor de uma CADEIRA que hoje em dia nem existe mais. Primeiro semestre de faculdade é cruel: qualquer deslize pode ser fatal. O meu não foi. Pelo contrário: há mais de 10 anos sou conhecido por um SOBRENOME que pode até não ser meu, mas por algum motivo estranho me define muito melhor do que todos os outros juntos.
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