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A Capital da Gincana
Publicado originalmente no blog Bugio, sob o título Anotações sobre a quinta-feira no dia 28 de setembro de 2009
No começo desse último inverno, uma bela noite dessas, o SESC de Santa Cruz do Sul me convidou pra participar de um debate que fazia parte da programação da Feira do Livro local. A conversa com os escritores Demétrio Soster e Leonardo Brasiliense aconteceu num auditório da UNISC, a Universidade de Santa Cruz do Sul, um belo e confortável APOSENTO que, se não estou muito enganado, chamava-se SALA SOUZA CRUZ (em alusão a uma das maiores - senão maior - produtoras de tabaco do país, que possui DOMICÍLIO naquela região).
A conversa, ENTÃO, foi muito boa.
Por incrível que pareça, tanto Soster quando Brasiliense efetivamente CONHECIAM meus ALFARRÁBIOS e, ao longo da noite, revelaram-se bons parceiros para o EMBATE ideológico e demais BIRIRIS estratégicos. Discordando em muitos momentos, fazendo ECO em tantos outros, todos promovemos excelentes momentos do esporte aos presentes.
Resumindo: VERY NICE.
Na platéia, que permaneceu a maior parte do tempo quieta, não abrindo a boca nem mesmo quando o mediador abriu o microfone para perguntas, pude contar 85 pessoas; 75 dessas eram mulheres.
Verdade seja dita: as 75 mulheres eram 74 mulheres.
E um CARA.
Good crowd indeed.
Possivelmente por conta da boa impressão que causei na OCASIÃO, coisa de uns dois meses atrás recebi NOVO convite do muy leal y valeroso SESC de Santa Cruz do Sul, desta vez para integrar o PLANTEL de convidados da 13ª Feira do Livro de Vera Cruz, uma pequena cidade de 30 mil habitantes que ostenta orgulhosa o título (incontestável, até onde pude verificar) de CAPITAL DA GINCANA.
Se eu soubesse disso quando acordei às 5 da matina dessa quinta pra dar tempo de estar ESTALANDO e TININDO às 9 horinhas na Praça José Bonifácio, talvez essa experiência toda fizesse mais sentido.
Mas acontece que eu não sabia.
5:00 - SOA o alarme do meu celular. Sem mover mais que o PESCOÇEICHONS, estico o braço e o reprogramo para despertar novamente dali a 20 minutos.
5:20 - O alarme SOA outra vez. Parece que passaram cerca de 4 segundos.
5:21 - De um só GOLPE sento na CAMOTA de CUEQUITA e, na elegância, ALONGO as PALETAS. De revesgueio, percebo que Petite resmunga, ENCARAMUJANDO-SE com mais força ao EDREDÃO. Aplico-lho SENHOR TABEFE numa das nádegas, a título de FANFARRA. Ela PROTESTA. Tarde demais. I’m on the run.
5:47 - Depois de percorrer o tradicional circuito banherístico, bateu-me um WAKE AND BAKE violento e eu acabei assando aquele BOLINHO esperto enquanto degustava meu ACHOCOLATADO de caixinha preferido.
6:11 - O táxi me deixa na porta da rodoviária. Preço da corrida: R$ 4,96. Vantagem do taxista: quatro centavos.
6:15 - Depois de comprar água e um PACOTE de Hall’s preto, me ABANCO defronte ao BOX do qual logo mais partirá meu ônibus, inicio uma partida de TETRIS no DS e PLUGO os fones no celular. Chase the Devil, do Max Romeo dá início a uma seqüência jamaicana violenta, que só vai ser quebrada lá pelas SETE E QUARENTA. Não consigo ultrapassar as 150 linhas (ou os 200 mil pontos).
6:45 - Desde que sentei a bunda no bus, não tive a menor vontade de voltar a jogar o DS - e olha que finalmente havia atualizado o FIRMWARE do meu R4 em vias de conseguir rodar tanto KORG-DS quanto SCRIBBLENAUTS. A boa fortuna me havia colocado em um desses ônibus que são obrigados a parar em oito ou nove cidadelas antes de atingir o destino final, propriedade responsável por fazer com que um PERCURSO de 168km leve DUAS HORAS E MEIA para ser completado. Em outras palavras: o INTERIOR BRAVIO que havia além da janela era muito mais ENTRETENEDOR do que a dupla tela JAPONISTA.
7:12 - Sem sono, cozinhando uma pilha no CÓRTEX, sentindo-me MALDITÃO.
7:40 - Começa a tocar Coolie High, do Camp Lo, fazendo as HONRAS de C-C-C-COMBO BREAKER.
7:55 - Estou no terceiro Hall’s. Acaba a água. Vontade iminente de soltar uma LASCA, ou, no mínimo, esvaziar a BEXIGOSA. Há alguma urgência na solicitação, comenta o ORGANISMO. Levanto e vou na direção do banheiro.
7:58 - Dou três a quatro encontrões contra a porta que não a fazem mais do que ENVERGAR levemente, o que me faz concluir, então, que há alguém lá dentro, possivelmente SOLTANDO UM BARRO SINISTRO, já que estou sentado na última fileira do ônibus e não lembro de ter visto ninguém passando por aqui na última HORA.
8:13 - Enfim alguém SAI do banheiro. É um gurizote naquela vibe BOLIVIANO GORDINHO: uma TEZ num tom entre o CAMELO e o CARAMELO, cabelo tigelinha, bigodinho de carroceiro’s crew, vestindo uma jaqueta vermelha de baseball e um boné combinando. Ele suava, o guri, e apanhava pra se equilibrar entre os bancos, no corredor.
8:15 - O BANHEIROSO chega a estar QUENTINHO de fedor, o que me faz descartar totalmente qualquer tipo de SENTADA. Mijo com dificuldade, rebolando à medida que o ônibus vai se sacolejando pelo caminho.
8h35 - Primeiros sinais de que estou chegando perto de Santa Cruz do Sul - uma placa da UNISC próxima a um TREVO no qual foi colocada uma daquelas enormes placas de sinalização azuis onde pode-se ler “Vera Cruz - 9km”. Tento reconhecer algum acidente geográfico, vegetação, outdoor, comércio, indústria ou residência que me fosse familiar. Nada. Só mesmo a visão da rodoviária - uma dupla de prédios de primeiro andar construídos em tijolo à vista - me reconforta.
9h08 - O Santana branco que a Prefeitura de Vera Cruz mandou pra me buscar atravessa um belíssimo túnel de árvores que me lembra de um trecho muito específico da estrada entre Torres a Araranguá que hoje já não existe mais. No banco do carona, ao lado do motorista, vai a bibiliotecária Rosária Garcia, de Venâncio Aires. Ela também é CONTADORA DE HISTÓRIAS e carrega uma bolsa multicolorida e cheia de motivos infantis. Sinto um pequeno alarme soar, mas ignoro.
9h10 - Algodão-doce, gritaria, música da Xuxa no sistema de som. Caralho, como tem CRIANÇA nessa cidade, penso. Duas tendas montadas num quase L, bem no meio da praça. A principal tem um pequeno palco e comporta cerca de cem pessoas. Autoridades discursam brevemente. É a cerimônia de abetura da Feira. Crianças jogam futebol num campinho improvisado. Mais gritaria. Não está tão frio quanto eu pensava que estaria. As nuvens de chuva começam a se dissipar no céu.
9h11 - Pago com uma nota de R$ 50 um CHURRO de R$ 2 na Praça José Bonifácio. Alguns segundos atrás, descendo os dez ou quinze metros que separam o lugar de onde parti até a barraquinha, já havia sofrido uma TEMPESTADE mental da GROSSA, começando com aquele frio na barriga que geralmente acompanha a constatação de que não possuímos UM MÍSERO TOSTÃO no bolso logo depois que acabamos de ORDENAR algum tipo de BEM ou SERVIÇO que por ventura exija PAGAMENTO.
9h26 - Finalmente entendo: a Feira do Livro de Vera Cruz é um evento totalmente voltado para as CRIANÇAS. Isso explica o fato de TODAS as (cinco ou seis) bancas venderem apenas livros infantis, títulos em sua maioria voltado para um público BEM inicial mesmo, na faixa dos 7-10 anos. Também explica o tráfego intenso de ônibus escolares nas proximidades da praça e - principalmente - o elevado número de CRIANÇAS circulando pela área.
9h27 - Na verdade, SÓ tem CRIANÇA circulando pela área. Todos os adultos na parada estão, de alguma forma, relacionados ao evento. Vendedores, professoras, contadores de histórias, a Secretária de Cultura de Vera Cruz e eu. Todo o resto = CRIANÇA.
9h31 - Um grupo de CRIANÇAS para ao meu lado. Uma delas me FITA com firmeza por alguns momentos. Retribuo o olhar. Percebo que ela está paralisada de PERPLEXIDADE ao me ver. Uma mulher eventualmente esbarra no guri, parado feito uma ESTACA no meio da praça. Ele então a puxa pelo casaco, aponta na minha direção e pergunta: Tia, ele é um PROFETA?
9h48 - Sou informado de que farei minha palestra para as turmas da sétima e oitava séries (que era o que havia sido acertado desde o início) em um dos espaços localizado no fundo da segunda lona, chamado “Contando Histórias”. Caminho até lá e me sento no chão, de frente para a cadeira onde deveria me sentar. Tiro o DS do bolso. Tetris. Again.
9h52 - Um gurizinho de uns 3 anos de idade segurando uma espada de plástico se aproxima. De pé na minha frente, ele é pouca coisa maior do que eu, sentado EM POSIÇÃO DE LÓTUS, no chão. Ele segura a espada pela BAINHA, me oferecendo o CABO. Eu o seguro. Ele puxa a bainha e IMEDIATAMENTE passa a me GOLPEAR. Forte. Com a BAINHA. Me defendo com a espada como posso - e de verdade - enquanto procuro algum auxílio de alguma pessoa nas proximidades. O guri segue me GUIZANDO MUITO e rindo como se aquilo fosse a melhor coisa do mundo. Lá pelas tantas, me distraio e ele me acerta. DÓI. Eu me curvo. Ele para de bater - mas não de rir. Me viro pra ele. Ele diz: te matei.
9h54 - Chega ou a MÃE ou a PROFESSORA do gurizinho. Ela entra meio CORRENDINHO, depois se detém e deixa escapar uma risada. Me levanto. Ela pega o piá, dizendo Vamos, filho, que depois de tarde o tio vai contar uma historinha pra ti. Sinto um arrepio muito frio correndo a espinha. Assim que eles se vão, sento na cadeira.
10h03 - Escrevo Spring Love no Scribblenauts e aparece um coração. Olho para a direção da entrada e vejo que uma PATOTA de, assim, umas 30 CRIANÇAS vem na minha direção. Deduzo sem titubeio que todos vão entrar na sala ao lado, onde uma menina vestida de PALHAÇA diverte a pequena rapaziadinha. Mas me engano.
10h04 - A Secretária de Cultura entra na sala tomada pelos PEQUERRUCHOS e o que se houve é mais ou menos assim: Bom, turma, bom dia. (bom dia) Esse aqui é o André Czarnobai, mais conhecido como Cardoso. Ele é escritor e veio aqui pra falar com vocês um pouco sobre a importância da leitura e sobre a sua experiência. André, essas turmas são de QUINTA série. Essas são as professoras.
10h05 - Refeito do choque inicial, até que conduzo uma palestra surpreendentemente BOA para aquela pequena rapaziadinha. Quer dizer: eu tinha me preparado pra falar pra turmas de sétima e oitava séries, o que corresponde a uma faixa etária dos 14 aos 17 anos, mais ou menos. Mas não tinha a menor idéia do que diria para uma galera entre os 10 e os 12. Mesmo assim, foi bem massa. As professoras ajudaram MUITO, dando um GÁS nos alunos para que participassem do debate e, eventualmente, vários acabaram se envolvendo. Posso dizer que foi MUITO (mas olha, MUITO mesmo) melhor do que vários debates dos quais já participei no tocante à participação da platéia. Só coisas geniais foram levantadas. Um dos alunos havia lido Hamlet e Don Quixote. Outros preferiam livros sobre insetos, planetas ou o corpo humano. Outros dois eram fãs de biografias. E um deles lamentou não saber inglês, pois isso impedia que ele pudesse ler a biografia do AXL ROSE que pediu pra mãe comprar certa feita.
11h05 - Duas meninas de uns 11 anos de idade se aproximam com um bloquinho e uma caneta, me pedindo pra anotar o nome do meu livro. Elas ficaram interessadas. Escrevo, com medo.
11h13 - Faço amizade com LELA LUDENS, a menina vestida de PALHAÇA que faz a alegria da pequena rapaziadinha na subdivisão da lona ao lado. Gente finíssima pra caralho. Mas fica o aviso: é muito REALIDADE PARALELA conversar sobre praticamente QUALQUER assunto com uma pessoa que tenha um coração pintado em uma bochecha, uma estrela azul na outra e use um daqueles truques de contraste vermelho-preto-e-branco pra criar a ilusão de BOCÃO DE PALHAÇO - isso pra não mencionar as sobrancelhas amarelas. Quando um palhaço fala SÉRIO e a expressão facial acompanha, é difícil não morrer muito.
12h08 - Desço uma rampa inclinada uns 40 graus na direção de um PORÃO onde funciona o TITO’S, considerado um dos melhores restaurantes da cidade. O lugar é mesmo concorrido: quase não tem lugar pra sentar. A comida, oferecida em BUFFET, é fresca e variada. Faço um prato composto de quatro ou cinco folhas grandes de alface, três boas colheradas de massa caseira, umas cem gramas de coração de galinha cozido, um espetinho de frango empanado e alguns bolinhos de MILHO bons pra cacete. Custa R$ 4,21. A Prefeitura é quem paga. Só peço uma Coca-Cola porque vi tarde demais que o lugar servia guaraná Fruki em garrafa de ceva.
13h17 - De volta à praça, torro um pouco no sol enquanto tiro fotos com a PALHAÇA LELA e as duas contadoras de histórias - Rosária Garcia (que também é bibliotecária em Venâncio Aires) e Valquíria Ayres (que também é bibliotecária em Santa Cruz do Sul). Já carrego o casaco há várias horas, e agora parece que chegou o momento de tirar também o blusão. Procuro abrigo do sol dentro da barraquinha que continha uma pequena exposição de fotos da história de Vera Cruz e Rio Pardo (a cidade homenageada nessa edição do evento).
13h18 - Duas senhoras que ZELAM pelo espaço oferecem um mate ao LÉU. Como a MATEADA é uma das atrações da programação oficial da Feira, não me faço de ROGADO. Eu respondo ao convite só para degustar uma das mais FANTABULOSAS ervas que já conheci em toda a minha existência. Plantada e colhida de forma extremamente rústica e caseira ali mesmo em Vera Cruz, aquela erva era a verdadeira LAMBSBREAD do mundo do mate. Parecia que eu sorvia VIDA e LUZ enquanto ia TRAGANDO aquela BOMBA. Baita mate. Verde clarinho, cheio de perfuminhos paralelos, saboroso na medida. Melhor digestivo não há. (Ok, há, mas deixa pra lá). Trilha sonora: My jamaican collie, de Max Romeo (de novo ele).
13h44 - Depois de ouvir várias vezes que as turmas de sétima e oitava série que não vieram de manhã virão EM PESO agora à tarde, me tranqüilizo um pouco. Trabalho com a idéia de que vai ser possível dar uma palestra AINDA mais legal depois do almoço, e me sinto centrado.
14h05 - Sentado na mesma salinha, vejo uma HORDA do JARDIM DA INFÂNCIA entrar bombando na cabine da LELA. Outra horda igualmente numerosa toma conta dos espaços externos, provocando uma BARULHEIRA SURROUND muito infernal.
14h19 - Nova horda se aproxima. Imagino que a cabine da LELA vai ficar superlotada, mas não é o que acontece. À medida que a sala onde estou vai enchendo, me dou conta de que há alunos de muitas idades variadas ali sentados. Alguns aparentam menos de 10 anos. Ficam conversando violentamente entre si e tentam fugir das professoras de todas as maneiras possíveis e imagináveis. Alguns escapam por debaixo da tenda. Outros, na faixa dos 15-17, entram e saem pela porta da frente mesmo, sem muita cerimônia, repetidas vezes.
14h22 - A Secretária de Cultura vem dar boa tarde para o pessoal, me apresenta e diz que a palestra vai começar dali a alguns minutos, quando todos chegarem. Ela me fala que são alunos da quinta e da sétima série. Alunos que parecem mais novos (e também mais velhos) do que a quinta série saem em massa, e são prontamente repreendidos. Alguns voltam, outros não. A lotação da sala diminui nuns 40%. Agora, a maioria que fica é de CRIANÇAS. Mas esse não é o maior problema: o barulho que vem da criançada na sala da Lela e da criançada que joga bola na rua é simplesmente ENSURDECEDOR. Não há a MÍNIMA condição de ser ouvido. Fico em silêncio, esperando a gritaria pelo menos diminuir.
14h27 - Noto que há mais de CINCO professoras nas proximidades. Algumas se aproximam e me cumprimentam, mas em seguida se afastam e ficam conversando com os alunos. O entra e sai segue firme. Eu sigo quieto, meio em choque, meio sem saber o que fazer. A gritaria permanece firme. Vários alunos já abandonaram o lugar, mesmo sobre protesto das professoras. Outros seguem escapando por debaixo da lona. Alguns poucos FIÉIS ainda esperam alguma coisa acontecer.
14h33 - Uma professora se aproxima de mim e pergunta se eu preciso que alguém me anuncie. Digo que não e me volto pra platéia. Levanto a voz o mais alto que posso: Boa tarde. Eu sou o Cardoso. Vocês sabem o que significa a palavra “surreal”? Silêncio mortal. Prossigo: Surreal é uma situação tão estranha que nem parece realidade. É o que eu estou vivendo hoje aqui…
14h43 - Depois de confessar que não sei andar de bicicleta, reclamar da forma como as pessoas estão escrevendo hoje em dia, encerro a palestra contando a ANEDOTA sobre o dia em que a minha vó ASSALTOU um homem por acidente no ônibus. A platéia (agora formada por umas 15 pessoas - a maioria adolescentes) ri bastante. Bom momento.
PAUSA - Pra contar a ANEDOTA: reza a lenda que a véia Rosa De Toni vinha um dia no ônibus quando sentou-se ao seu lado um homem de cuja APARÊNCIA não gostou. Retraiu-se num canto e começou a observá-lo de cima abaixo. Ao passar os olhos sobre o seu PULSO notou que o homem portava um relógio EXATAMENTE igual ao seu. Quando consultou seu próprio PUNHO em resposta, constatou que estava SEM o relógio, e ficou indignada consigo mesmo durante alguns segundos tentando entender como é que não sentiu nada quando o homem lhe FURTOU o PERTENCE. Determinada a não deixar barato, ela agarrou forte com as UNHAS o braço do sujeito, se inclinou em sua direção e sussurrou em seu ouvido: Se tu não me der o relógio agora, eu vou começar a gritar. Intimidado pela situação, o sujeito DESAFIVELOU o relógio e o botou na mão da minha vó, que prontamente levantou-se e desceu na primeira parada. Ela precisou de alguns minutos para se recompor, e mesmo quando conseguiu recobrar a clareza e caminhou até em casa, chegou lá TREMENDO de nervosa. Jurando para si mesma que era a última vez que andava com aquele relógio na rua, a véia Rosa abriu a gaveta da cômoda onde costumava guardá-lo, apenas para encontrá-lo repousando tranquilamente sobre as roupas de inverno.
14h44 - As professoras fazem alguns comentários finais, elogiando um pequeno grupo de cinco ou seis RAPAGÕES que fica até o final. Um deles vem até mim, aperta minha mão e me diz parabéns. Eu devolvo um que é isso, muito obrigado e me levanto.
14h46 - Uma professorinha morena e magrela que saiu de Restinga Seca pra viver a GRANDE VIDA em Vera Cruz me para na saída da tenda e começa a falar. Na pauta, comparações entre cidades muito pequenas com cidades um pouco maiores. É com ela que descubro o dado CHOCANTE que Vera Cruz só perde pra Porto Alegre no número de viciados em CRACK - o que explica a extensa distribuição de adesivos e camisetas da campanha CRACK NEM PENSAR, bem como a exposição de cartazes contra as drogas feitos pelos alunos de diversas escolas. Segundo essa professorinha, o maior desafio de dar aula para os alunos das séries mais avançadas é justamente esse: vários deles já chegam completamente transtornados na primeira hora da manhã. Trash. Mas pelo menos há esperança no horizonte: o gurizão que me deu os parabéns ao final da palestra é ex-dependente. Recuperado pela Igreja. E pelos livros - dizem.
15h12 - Estou sentado em uma cadeira no meio da praça, fora das tendas, esperando que o Santana branco da Prefeitura venha me levar de volta a Rodoviária de Santa Cruz do Sul quando um piazinho passa VOANDO e se estatela no chão, derrapando até perto das minhas pernas. Ele me olha espantado, corre vários passos em direção a um adulto, abraça-se às suas pernas, me aponta e, em tom SOLENE, pergunta: É AQUILO UM PROFETA? Juro que foi exatamente ESSA a construção.
15h20 - Vejo um gurizão meio que vestido de HIPSTER no meio da multidão. Cabelinho meio FROM UK, calça de brim preto colada, com a bainha pra fora, SNEAKER não dos mais ducaralho, mas pelo menos LEGÍTIMO no pé, correntinha escapando do bolso, MUNHEQUEIRA, mochila, atitude blasé.
15h45 - Finalmente aparece o Santana branco da Prefeitura que vai me levar embora.
16h03 - Na Rodoviária de Santa Cruz do Sul, compro uma passagem para as 16h30. Mais tarde vou me arrepender de não ter comprado também um salgado e uma garrafa d’água prum lanchinho.
16h28 - Sento no meu assento. A pessoa que vai na minha frente ENVERGA o banco para trás com toda fúria. Encontrando a resistência dos meus joelhos, ela AUMENTA a força da pressão. Dou um sonoro grito. Outras pessoas me cozinham com os olhos, em reprovação. Ela SEGUE empurrando. Finalmente cedo, colocando as pernas de lado no banco.
16h31 - Apesar de não apresentar NENHUM sinal de cansaço até então - sério, eu nem sequer tinha BOCEJADO o dia inteiro, mesmo tendo REPOUSADO por apenas 2 horas na noite anterior -, adormeço.
18h11 - Acordo e sinto muita falta daquele salgado e daquele BEBERIQUES citados anteriormente. O celular acusa bateria fraca, o que significa que não vou poder mais ouvir música.
18h33 - Quando as luzes começam a RAREAR, tiro o DS do bolso e retomo minha JORNADA em PuzzleQuest.
19h02 - Finalmente desço na capital gaúcha. Pego o primeiro táxi que encontro pela frente e vou pra casa. O taxista é meio perdido, e eu tenho que ficar corrigindo o caminho o tempo todo. Quando finalmente chegamos perto, ele pergunta se pode me deixar do outro lado da rua. Concordo. Custo da corrida: R$ 5,85. Vantagem do taxista: 15 centavos - e uma pernadinha leve até a porta do meu prédio.
19h15 - Ouvindo Mayer Hawthorne e o set do Brookes Bros. na Random Concept. Blazin’ blazin’. Chillin’, chillin’.
LAMÚRIAS FINAIS: Deveria ter comprado um bom QUILO daquele mate maroto e ter comido pelo menos mais um CHURRO com MUMU.
DE RESTO: Boa experiência de vida. Nota 7,5.
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