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Quem não tem cão caça com os Rafale?
Publicado originalmente no jornal Brasil Econômico, em fevereiro de 2010
Uns dias atrás, quando me foi CONFIADA a informação de que o Brasil seria o ORGULHOSO comprador de generosas TRÊS DÚZIAS de CAÇAS franceses Rafale (que disputaram a preferênciacom o sueco Gripen NG e o yankee F-18 Flying Hornet), lembrei-me automaticamente de um ADIPOSO camarada com quem dividi a PENOSA tarefa de completar a sétima série (isso nos anos 90, não sei como a JUVENTUDE chama hoje em dia).
Seu nome era Leonardo.
Além de fazer bastante SOMBRA, possuir TOPETE CATACLÍSMICO e praticar Tae Kwon Do (ele dizia TECONDO) com AFINCO, Leonardo era conhecido pelo ENTUSIASMO que tinha para com a Aeronáutica.
Sempre que o clima permitia, Leonardo usava uma JAPONA preta NERVOSA, cheia de bolsos e FIVELAS, com um COLARINHO forrado de PÊLO para proteger o pescoço e diversos emblemas militares FINAMENTE bordados nos ombros.
Segundo ele, a JAPONA era parte integrante do uniforme dos PILOTOS do AMX.
Alguém aí lembra do AMX?
Eu, sinceramente, só lembro por causa dessa JAPONA.
Pois o AMX foi um projeto de aviação de guerra desenvolvido pelo Brasil em parceria com a Itália no começo dos anos 80. Para tristeza de Leonardo, seu TECONDO e seu TOPETE, a função não LOGROU lá muito ÊXITO: em pouco mais de uma década, pouco menos de 200 aviões foram fabricados – o último deles no longíquo ano de 1999.
Não sei se – TECNICAMENTE – o AMX era um CAÇA.
Certamente era um avião de guerra.
Mas TERGIVERSO.
(...)
Em 1992, ano em que cursava a sétima série em rigoroso COLÉGIO DE FREIRAS (que outrora já FORA um INTERNATO para meninas), eu costumava passar MUITAS das minhas MUITAS horas livres ESMERILHANDO um jogo chamado F-15 CITY WAR no meu videogame da vez: um HI TOP GAME.
Apesar do jogo ser simplesmente HEDIONDO, lembro-me de adorá-lo MUITO por culpa do personagem principal. À época, havia todo um FRISSON provocado pelo desenho ARROJADO e revolucionário do JATO, que ostentava aquela CAUDA DUPLA característica, parte HEAVY METAL, parte cabeleira do WOLVERINE.
O CONSOLE, por sua vez, era um projeto brasileiro. Muito embora não haja notícia de investidores italianos envolvidos, também não foi muito LONGEVO: ficou pouco mais de UM ANO no mercado.
Não sei se – TECNICAMENTE – o Hi Top Game foi um FRACASSO.
Certamente não foi um SUCESSO.
Mas perdão: novamente me DISPERSO.
(...)
Quase duas décadas depois, enquanto ASSO mansamente os PICOVÁ numa noite qualquer do verão SÓLIDO do Uruguai do Norte, descubro que é mesmo FATO que o governo brasileiro pretende fechar negócio de MUITOS BILHÕES DE DÓLARES com os FRANCESES para a aquisição de uma ROBUSTA esquadra de aeronaves-de- caça.
Perante a GESTO dessa magnitude, não me resta alternativa que não exaltar o GÊNIO que é o cara que pensou nisso.
Um verdadeiro VISIONÁRIO, eu diria.
Depois dos Rafale, imagine só as maravilhas que vem por aí: vídeo-cassetes de quatro cabeças, biquíni ASA-DELTA (com sutiã CORTININHA), vacina contra a hepatite-B, leitores de CD-ROM, lentes de contato descartáveis, ônibus espaciais... Já não há mais limites: podemos sonhar até mesmo com um aparelho de FAX na casa de cada brasileiro.
Que época para se viver!
(...)
Em 1999, ano em que o AMX teve sua produção DESCONTINUADA, eu conheci na faculdade um alemão magrelo que cursava, ao mesmo tempo, filosofia e direito. Anos mais tarde formou-se em JORNALISMO. Já faz algum tempo que não se pode chamar de MAGRELO.
Nunca falamos muito sobre o assunto, mas sei lá. Tem alguma coisa que me diz que ele também NUTRE APREÇO pela aeronáutica.
Talvez tanto quanto Leonardo.
Talvez tanto quanto eu.
Hermano, você está bem?
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