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O mistério dos cachecóis matutinos
Publicado originalmente na coletânea Desacordo Ortográfico, da Não Editora, em 2005
Agora já faz um tempo que NÃO me acontece, mas houve uma ÉPOCA em que era bem FREQÜENTE acordar pela manhã e, enquanto PERFORMAVA a tradicional CONFERÊNCIA da GLANDE durante o MIJÃO matutino primordial, encontrar um LONGO fio de cabelo enroscado no PESCOÇO do PAU.
Nunca consegui apurar com precisão a origem destes cabelos, que diferiam não só em TAMANHO mas também em COR dos meus PUBIANOS e dos demais que eu mantinha espalhados pelo CORPO. Acrescente-se a isso a informação de que, quando este FENÔMENO se verificava, eu não possuía QUALQUER tipo de parceira sexual que me pudesse servir de JUSTIFICATIVA.
Pois bem.
Maconhista de PESO que ERA, acabei construindo uma BELA fantasia para explicar a CUIROSA aparição. Decidi que toda vez que isso me acontecia eu havia sido visitado durante o SONO pela FADA DA FODA, que me SATISFAZIA os desejos carnais e depois me premiava com aquele DESCUIDO capilar no intuito de me fazer LEMBRAR de sua PRESENÇA - posto que do ATO em si eu não me lembraria, já que, ao FIM dele, a FADA sempre me assoprava uma boa dose de PÓ DE PIRLIMPIMPIM nas VENTAS.
Numa época em que o surgimento dos PÊLOS adquiriu uma freqüência bastante ASSOMBROSA, comecei a cogitar a hipótese de estar sendo visitado por alguma espécie de ADMIRADORA SECRETA realmente OBCECADA. Eu fiz até um roteiro da sua aventura: ela acessava o meu PÁTIO driblando cães, muros e grades e atravessando os pátios de outras TRÊS casas, depois ESCALAVA a parede do meu quarto e ARROMBAVA com um pé de cabra a minha VENEZIANA. Uma vez dentro da minha ALCOVA, ela me DROGAVA com CLOROFÓRMIO e de mim ABUSAVA o quanto queria.
Com energia, agilidade e desenvoltura para concluir o PERCURSO, eu pressupunha que pelo menos o CORPO desta ADMIRADORA deveria ser TIGHT - e por esse motivo permitia que o processo se REPETISSE.
Um dia, entretanto, me veio à cabeça a idéia de que se poderia ser uma FADA DA FODA ou uma ADMIRADORA SECRETA deixando cabelos enrolados na GARGANTA do meu MASTRUÇO, poderia muito bem ser um CABELUDO BROIOCA o responsável por toda essa LAMBANÇA.
O pensamento fez subir uma lista de GELO pela minha COLUNA.
Mas logo encontrei ALÍVIO, quando descobri um desses misteriosos fios presos a uma camiseta escondida debaixo de um casaco e um blusão de lã. Imaginando o caminho que esse fio percorreu até chegar ali foi que desenvolvi uma teoria muito mais PLAUSÍVEL, e que me devolveu a capacidade de PREGAR os olhos durante a noite.
Senão vejamos:
- É certo que perdemos, todos nós, humanos, milhares de fios de cabelo POR DIA.
- É certo que a MAIORIA nos escapa da cabeça aos muitos por minuto sem que tenhamos qualquer indício disso.
- É certo que o VENTO os intercepta em algum ponto da sua trajetória de queda, e faz com que dancem pelo ar até encontrar alguma superfície onde possam ADERIR adequadamente.
- É certo que nossas MÃOS percorrem os mais improváveis esconderijos do nosso corpo INCUMBIDAS da realização das mais diversas TAREFAS ao longo de um dia completo.
- É certo que durante todo esse TRABALHO MANUAL se possa ser transportado de qualquer parte do corpo à cabeça do PAU um fio que tenha se desprendido da cabeça de OUTREM mais cedo e FLANADO livre por alguns metros até encontrar abrigo em uma superfície adequadamente ADERENTE.
Uma vez PARCIALMENTE esclarecido (ou, pelo menos, RACIONALIZADO) o mistério dos CACHECÓIS MATUTINOS, senti que a vida perdeu um tanto de graça. Ainda que agora possa dormir sem medo da idéia do efeito do CLOROFÓRMIO ou do PÓ DE PIRLIMPIMPIM passar e eu acordar com um METALEIRO me pagando um BOQUETE, morre também a possibilidade de ter sido ELEITO objeto sexual por uma deliciosa fadinha de bunda ARREBITADA ou uma ATLÉTICA e corajosa admiradora secreta.
Suspiro.
Durante a mijada matutina inaugural desta TERÇA, notei que um fio tingido de VERMELHO apareceu abraçado ao PERIGOSO.
Já a janela do quarto amanheceu fechada.
Chovia.
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